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Nao foi o Governador, foi Minas | Como a imprensa consegue amenizar uma saia justa
Por Luciano Martins Costa publicado no Observatorio da Imprensa
Os leitores da Folha de S Paulo foram surpreendidos no domingo (ontem) por um ataque indireto ao senador Aécio Neves, candidato do PSDB a presidente da República – “Minas fez aeroporto em fazenda de tio de Aécio”, dizia a manchete do diário paulista. No texto logo abaixo, o jornal conta que, quando governador, em 2010, Aécio mandou construir, com dinheiro público, um aeroporto na fazenda de um tio – que o senador usa regularmente.
A obra custou R$ 14 milhoes e só serve à família do senador ou a aeronaves que ela autoriza, pois o governo de Minas nunca entregou à ANAC, Agência Nacional de Aviaçao Civil, os papéis necessários à sua homologaçao. Portanto, objetivamente, a instalaçao segue sendo uma obra privada feita com dinheiro público.
Na mesma ediçao e em texto de tamanho proporcional à reportagem que faz a denúncia, a assessoria do senador responde que a escolha do local levou em conta apenas aspectos técnicos, nao considerando que a propriedade do imóvel favorecia diretamente o entao governador.
O Estado de S Paulo reproduziu no mesmo dia a denúncia da Folha, em um texto mais curto, incluindo a defesa de Aécio Neves, acrescentando que no local havia uma pista construída em 1983 por seu avô, Tancredo Neves, quando era governador do Estado. Ou seja, a família se beneficia das instalaçoes há mais de 30 anos, agora modernizadas com recursos do Estado. Ou há outra interpretaçao para a sequência de notícias?
Hoje, 21, os 2 jornais paulistas voltam ao assunto, para oferecer um amplo espaço à defesa do candidato tucano, e o Globo entra na história, publicando com destaque a justificativa de Aécio Neves, sem ter publicado antes a denúncia.
O conjunto do noticiário serve de modelo para o leitor entender o estilo que deverá marcar a imprensa hegemônica até o fim da campanha eleitoral – para amenizar as suspeitas de que tende para um dos lados da disputa, dá-se, como se dizia antigamente, uma no cravo, outra na ferradura.
Aeroporto particular
O cuidado em amenizar o efeito da reportagem diz muito sobre a atençao que a imprensa dedica ao seu candidato preferencial. Diante de um fato que induz claramente à conclusao de que a família Neves transformou um antigo campo de pouso em aeroporto particular com dinheiro público, e que a decisao de tocar a obra foi feita pelo entao governador Aécio Neves, qual é a alternativa?
Já que nao se pode esconder o fato, cria-se na própria denúncia a condiçao propícia à defesa. A começar pelos títulos: tanto na Folha como no Estado, nao foi o entao governador quem autorizou o uso de dinheiro público no interesse da própria família: foi “Minas”. Ora, “Minas” nao pratica atos de ofício, “Minas” nao assina autorização para obras com ou sem licitação. Quem assina é o governante, e o governante é agora candidato a presidente da República.
De que, entao, tratava a manchete da Folha no domingo? Tratava do cuidado mínimo que o jornal precisa dedicar à cobertura da disputa eleitoral, porque o engajamento permanente e descarado em uma ou outra candidatura pode prejudicar outros interesses da própria empresa que edita o diário.
Por exemplo, se o público desenvolver a convicçao de que a Folha apoia explicitamente uma candidatura em detrimento das outras, quanta confiança será depositada em futuras pesquisas do Datafolha?
Entao, se determinado fato nao pode deixar de ser publicado, porque a omissao colocaria em risco a credibilidade do jornal, dá-se um jeito de preservar no que for possível a reputaçao do candidato acusado.
Em nenhuma outra ocasiao, nos muitos escândalos que a imprensa reportou nos últimos anos, a autoria foi desviada do personagem central para a figura diáfana do Estado. Apenas como referência, no caso que tinha como acusado o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, nao se leu nos jornais que “Brasília é condenada por improbidade administrativa”.
Mas no caso do aeroporto privado feito com dinheiro público, não foi o entao governador quem cometeu o malfeito: foi “Minas”.
Carlos
Alguem acredita ainda em imparcialidade jornalistica? Isso nao existe mais, se é que um dia existiu, nesse caso específico eu acho até bom. Mas o engraçado dessa história é o blue bus fazer essa espécie de crítica, sendo que muitos colunistas nem se dão ao trabalho de disfarçar as próprias convicções nas maiorias dos artigos.
Julio Hungria
Carlos, vc precisa entender que
(1) qd o Blue Bus replica uma materia nem sempre ele concordarah integralmente com ela (2) Nos NUNCA fomos imparciais, sempre tivenos lado, nao de 1 partido politico especifico, mas de ideias e posturas – dah pra perceber, nao eh? (3) Mas nunca fizemos esse jornalismo desonesto que fazem os grds jornais brs a favor de pessoas que sustentam seus negocios de midia. Abs Julio
PS – Nao temos porque disfarçar nossas convicçoes – Temos mt orgulho delas.
ramiro
Olá Júlio com todo respeito que tenho pelo BlueBus, tendo a concordar com o comentário do “Carlos acima”.
Claro que o Bluebus tem viés “político-partidário” , isso não é problema nenhum.
O ruim é desincentivar comentários com ideias divergentes.
Fiz recentemente um comentário sobre o prêmio YOUPIX onde há uma ótima sacada no critério de pré-seleção (“ninguém que já ganhou pode ganhar novamente”) .
O comentário tinha a intenção de exaltar a inovação de forma radical (o bluebus deve ter interpretado como “partidário” e NÃO PUBLICOU)
O debate foi CENSURADO! (Como provavelmente este também o será!)
É uma pena que o próprio BLUEBUS não consegue incentivar o debate.
Abraços
@ramirogoncalez
Julio Hungria
Amigo Ramiro, vc pirou de vez :( O comentario era tao bom que saiu dos comments e foi PUBLICADO COMO NOTICIA… e vc nao leu :( >>> http://www.bluebus.com.br/como-copa-das-copas-o-youpix-dos-youpixes-o-que-ficou-evento/ Leitores com vies politico partidario sao uma lastima :(
Como disse a Laura Capriglione no nosso debate da 6a – “eles nao lêem, mas comentam” :((
ramiro
OOOOPPPSSSSS !!!
Não tinha visto ;)))))
O som alto afetou meu cérebro!!!
SORRY!!!!!
Julio Hungria
:))))))