1 dia meu bilionário virá | Nelson de Sá sobre 1 momento dificll do futuro do jornalismo

Nelson de Sá na Folha para assinantes®

Desde que Jeff Bezos, fundador e presidente da Amazon, comprou o Washington Post, magnatas de tecnologia se tornaram a grande esperança de sobrevivência para o jornalismo nos EUA. Nao demorou e Pierre Omidyar, fundador e presidente do eBay, tirou Glenn Greenwald do Guardian para 1 empreendimento jornalístico ainda indefinido. 1 empreendimento que por enquanto obteve, como único resultado, conter os vazamentos de Edward Snowden que vinham sendo canalizados pelo jornalista.

Na semana passada, Omidyar foi criticado pelo NSFWCorp, revista online de Paul Carr, também ele egresso do Guardian. A longa reportagem detalhou o histórico neoliberal do magnata, encerrando com uma insinuaçao, na suposta voz de Greenwald – “América corporativa, nao se preocupe. Seus segredos sujos transferidos do desagradável Guardian para Omidyar estao seguros conosco’.

Depois de discutir online com Carr, Greenwald tuitou que “talvez a melhor forma de julgar um novo veículo de mídia seja pelos jornalistas que contrata”, como ele, “e pelo jornalismo que produzir quando começar de fato”. Nao existe data, porém, para retomar a divulgaçao dos segredos de Snowden.

Glenn Greenwald nao saiu bem do confronto com Paul Carr, mas bastaram alguns dias para este e seu NSFWCorp se encontrarem em situaçao muito parecida. O jovem site nao achou um modelo de negócios viável, acumulou prejuízos e acabou nas maos de Peter Thiel, investidor que fundou e foi presidente do PayPal, hoje parte do mesmo eBay (que contratou Gleenwald). O NSFWCorp vai desaparecer e sua equipe será incorporada pelo PandoDaily, site bancado por Thiel e considerado uma espécie de voz oficial das empresas de tecnologia.

O episódio todo foi ruim para Greenwald, para Carr e para a esperança de futuro para o jornalismo. Fundadora e editora de outra revista online, Rachel Rosenfelt lamentou que o NSFWCorp tenha caído nas maos de “bilionários do Vale do Silício” e acrescentou, com ironia triste – “Um dia meu bilionário virá”.

No caso de eBay/PayPal, é bom lembrar, trata-se do grupo financeiro-tecnológico que aceitou a pressao do governo americano e bloqueou as doaçoes para o WikiLeaks, sufocando assim os vazamentos canalizados por Julian Assange.

Quanto a Assange, o mesmo governo americano passou agora a dar sinais anônimos de que nao vai processá-lo, “provavelmente”, porque teria de fazer o mesmo com os jornais que publicaram vazamentos. Seria “o problema New York Times”, na expressao usada pelos anônimos.

Enclausurado há 3 anos na Inglaterra, primeiro em prisao domiciliar, depois na embaixada do Equador, o editor-chefe do WikiLeaks cobrou dos EUA uma declaraçao “inequívoca”. Do contrário, o jornalista segue no exílio.

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