Mídia NINJA começa a perturbar a mídia tradicional – Luciano Martins Costa no Observatorio

Luciano Martins Costa no Observatorio da Imprensa sob o titulo A Maledicência como Estrategia

Os jornais de ontem, 3a feira, davam amplo espaço para a chegada do papa Francisco ao Rio de Janeiro. O discurso de saudaçao da presidente da República e a palavra do pontífice sao destrinchados em busca de significados ocultos, e há grande destaque para a atitude serena do chefe da igreja católica durante o trajeto entre o aeroporto e a sede do governo do Rio, quando uma falha da segurança fez com que sua comitiva ficasse cercada pela multidao.

As coberturas se assemelham em quase tudo, mas deixam alguns vazios a serem preenchidos no relato sobre os protestos que acabaram em violência e prisoes depois da solenidade oficial.

Curiosamente, os jornais paulistas O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo deram mais destaque aos incidentes que o carioca O Globo (…..) mas o leitor só vai formar 1 quadro mais ou menos coerente se ler os 3 principais diários de circulaçao nacional, com suas colunas de notas curtas, e observar alguns vídeos produzidos pela rede de jornalismo alternativo chamada de Mídia NINJA.

O Globo descreve o momento “exato” em que o tumulto teria eclodido, indicando a açao de 1 grupo bem articulado, que obedecia a um comando central (?) – “Os distúrbios começaram sob as ordens de um manifestante de rosto encoberto por uma camisa. Ele recebeu um telefonema e ordenou que 1 grupo de mais de 20 jovens colocassem máscaras e toucas ninjas e iniciassem o ataque”, descreve o jornal carioca.

Uma nota na Folha torna pública a acusaçao de que a violência durante protestos no Rio seria comandada por milicianos, ex-policiais militares, ligados ao ex-governador Anthony Garotinho, que estariam agindo de forma organizada e misturados aos manifestantes.

Nas redes sociais digitais, destaque para registros de ativistas do Mídia NINJA, que teriam identificado como agente policial o homem que atirou o primeiro coquetel molotov contra o contingente da PM que protegia o Palácio Guanabara.

Esse conjunto de informaçoes poderia ser mais bem explorado pelos jornais para ajudar o leitor a entender o contexto em que se misturam a mensagem de paz do pontífice a cenas de violência nas ruas.

As transmissoes abertas do Mídia NINJA mostraram que a manifestaçao começou no proverbial tom de bom humor e deboche, como costuma acontecer no Rio. Mulheres seminuas encenavam “confissoes” de práticas condenadas pela doutrina católica, casais homossexuais se beijavam em frente a uma igreja, escandalizando peregrinos, e manifestantes cobravam informaçoes sobre um morador da favela da Rocinha que está desaparecido desde o dia 14/7, quando foi preso e levado a uma delegacia.

Como tem ocorrido há semanas, o grupo de jornalistas independentes é a principal fonte de informaçoes diretas dos protestos. As grandes emissoras de televisão, hostilizadas pelos manifestantes, só conseguem imagens tomadas de helicópteros ou do alto de edifícios, e eventualmente colocam repórteres no meio da multidao, munidos de telefones com câmeras, para fazer registros, mas eles têm dificuldade de descrever as cenas, para nao correrem o risco de serem identificados.

O crescimento da audiência do Mídia NINJA, cujas transmissoes sao agora acompanhadas nas redaçoes dos jornais, começa a chamar a atençao de autoridades e da mídia tradicional. Essa provavelmente é a razao pela qual, durante os incidentes no Rio, a polícia estava especialmente interessada em tirá-los de circulaçao. Filipe Peçanha e Felipe Assis, membros do núcleo fundador do grupo alternativo, foram detidos e acusados de incitar a violência – leia uma logo abaixo.

Interessante observar como esse fenômeno de comunicaçao cresce e se consolida sob a estrutura orgânica das manifestaçoes, transformando-se rapidamente em uma forma eficiente de mídia, sem editores nem hierarquia visível, ao ponto de servir de fonte para muitos jornalistas e ser considerada como uma ameaça pela polícia. Pode-se notar, também, que sua existência começa a pertuarbar a mídia tradicional.

Na ediçao do Globo desta 3a feira, 1 artigo tenta vincular o Mídia Ninja ao Partido dos Trabalhadores, ao insinuar que a organizaçao que lhe deu origem, o grupo de ativismo cultural denominado Fora do Eixo, seria “uma ferramenta de articulaçao político-partidária”.

Conclui Luciano – “Quando a imprensa apela para a maledicência, é porque se sente incomodada”.

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