A orfandade informativa das vítimas da avalanche | Observatório da Imprensa

Texto de Cristiano de Sales no Observatório da Imprensa

Estivéssemos falando em termos literários, o que os jornais fazem ao cobrir as mortes decorrentes da tragédia em Minas Gerais nao passaria de eufemismo. Mas como o assunto é jornalismo, os termos que devemos esperar, imprescindivelmente, giram em torno de negligência e responsabilidade, ou até mesmo crime. Coisa que a imprensa em geral (entenda-se, os jornais mais consumidos) tem passado longe de fazer.

Até mesmo um jornal digno de respeito, entre outros motivos, por tornar públicos os textos da maior jornalista-colunista desse país, Eliane Brum – sim, a pessoa mais competente nesse ramo é uma mulher –, o El País Brasil, tem caído no embuste de veicular os acontecimentos ligados à tragédia do vazamento de resíduos da barragem administrada pela Samarco-Vale-BHP como um “acidente”. Nao é preciso ser linguista para perceber o efeito semântico-pragmático que essa palavra causa; o de que acontecimentos dessa natureza ocorrem, sem que haja, necessariamente, um responsável. Bem semelhante à expressao “crise hídrica”, cunhada para se referir à seca de Sao Paulo e nao instigar uma populaçao a cobrar da administraçao pública os danos causados pela falta de água.

Os motivos dessa condescendência da imprensa sao muitos e provavelmente nunca conheceremos a metade deles. Mas um, ao menos, nao é difícil de deduzir. Empresas como a Samarco, ou seja, mineradoras, investem quantias substanciais de dinheiro em campanhas eleitorais de partidos políticos. Logo, poucos veículos de comunicaçao, ao menos os mais bem projetados na formaçao do pensamento coletivo, farao o trabalho que deve ser feito.”

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