A verdadeira ameaça a imprensa nao vem dos governos mas da concorrência

Do texto de Luciano Martins Costa hoje no Observatorio da Imprensa

Hoje, último dia da 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa em Sao Paulo, os jornais brs destacam o que deveria, no final da tarde, compor o núcleo das conclusoes do encontro. Mais uma vez, a entidade que representa a imprensa tradicional nas Américas manifesta suas preocupaçoes com ameaças hipotéticas à liberdade de expressao. Júlio César Mesquita, presidente do comitê anfitriao e membro do Conselho de Administraçao do Grupo Estado (…..) repete as queixas dos donos de jornais contra governos que estariam alterando a legislaçao “para estabelecer controles sobre a mídia”. Os outros jornais ignoram o discurso de Mesquita, mas repetem o bordao da ameaça contra o direito fundamental à informaçao.

Um painel com a presença dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, e Alan García, do Peru, foi o mais assertivo nesse sentido, com referências a um possível “retrocesso” nas conquistas democráticas do continente. A rigor, nem mesmo o mais conservador entre os dirigentes de jornais concordaria que há no Brasil “um ressurgimento do pensamento contrário à democracia”, conforme afirmou o ex-presidente Fernando Henrique (…..)

(Na verdade) a principal ameaça às empresas tradicionais de comunicaçao no Brasil foi representada, na assembleia da SIP, pelo anúncio do presidente da New York Times Company, Arthur Sulzberger Jr, de que sua organizaçao vai investir num site jornalístico em português dirigido ao público brasileiro.

O que Sulzberger Jr anunciou na SIP, e que deveria preocupar os donos de jornais, é a globalizaçao real das grandes marcas internacionais da imprensa, por meio das tecnologias digitais de comunicaçao.

Essa iniciativa pode acabar tornando inócuo o artigo 222 da Constituiçao, penosamente aprovado pelas empresas nacionais há 10 anos, que limita em 30% a participaçao do capital estrangeiro em negócios de comunicaçao no Brasil (…..) e representa uma concorrência ainda mais pesada contra os as empresas nacionais justamente quando elas começam a definir uma estratégia de atuaçao na internet através das tecnologias de publicaçao multiplataforma.

De acordo com o diretor da empresa americana, “agora é a hora de investir no Brasil”, país que se tornou “um centro internacional de negócios”, e que, segundo afirmou, “teve sucesso marcante em reduzir a pobreza, ampliar a mobilidade social e trazer seus cidadaos para a classe média – e continua a fazê-lo”.

Os donos de jornais brasileiros certamente concordam que há grandes oportunidades no Brasil, embora nao saibam exatamente como aproveitá-las, mas discordam do diagnóstico de reduçao da pobreza e têm motivos de sobra para temer o futuro concorrente.

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