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A vitoria do Corinthians e os vira-latas do jornalismo – texto no Observatorio
Por Marcos Mortari, estudante de jornalismo em Sao Paulo, publicado na 2a feira, trecho abaixo leia integra.
Nao é difícil imaginar como Nelson Rodrigues ficaria entusiasmado se tivesse tido a oportunidade de assistir à final do mundial de clubes no domingo 16. O momento em que a bola cabeceada pelo centroavante corintiano estufou a rede da meta defendida pelo goleiro do time inglês certamente seria acompanhado com grande euforia pelo fanático torcedor.
Nelson nao era corintiano – é verdade; era 1 apaixonado pelo tricolor das Laranjeiras. Mas nao podemos nos esquecer de seu gosto por qualquer signo que pudesse representar, de alguma forma, a cultura brasileira. O futebol é um deles. A conquista do Corinthians provavelmente serviria como poderosa arma nas maos de Nelson em seu combate ao ‘eurocentrismo’, sintoma patente daquilo que o escritor, jornalista e dramaturgo chamou de “complexo de vira-latas” há 5 décadas, quando o Brasil ainda se lamentava pela derrota do Maracanaço.
Disse – Qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibiçoes e se poe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisaçao, de invençao. Em suma – temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu poderia chamar de “complexo de vira-latas”. Estou a imaginar o espanto do leitor – ‘O que vem a ser isso?’. Eu explico. Por “complexo de vira-latas”, entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca voluntariamente, em face do resto do mundo.
O Chelsea, que em momento algum parecia imaginar que poderia ser derrotado, após o gol da equipe paulista perdeu-se em campo. A velha e famosa organizaçao, “típica da cultura europeia” – como sempre fazem questao de exaltar os jornalistas esportivos brasileiros – ironicamente ruiu no momento crucial do jogo. A frase que se tornou bordao nesse mundial de clubes ganhava algumas adaptações incapazes de corrigir o ‘eurocentrismo’ de sempre – “o mais europeu dos times latinos” venceu a disputa – talvez contra o mais latino dos europeus, outros poderiam acrescentar. O jornalista Vitor Birner escreveu em seu blog: “Nos blues, a bagunça é grande” e o “Corinthians tem sido mais europeu que o Chelsea”.
Em uma primeira análise, poderíamos imaginar que se tratava de uma simples e ingênua referência ao estilo de jogo dos clubes, à forma de se distribuir os jogadores nas 4 linhas ou quaisquer outros elementos táticos. Mas, quando observamos o contexto no qual o bordao era usado, percebemos o reforço da ideia da virtude europeia em detrimento à infâmia latina. O impecável senso de organizaçao dos europeus se opondo à barbárie de uma América Latina a anos-luz da civilizaçao. Puro vira-latismo.
A jornalista Silvia Chiabai, em seu artigo ‘Eurocêntricos em campo‘, no Observatório, expôs com maestria a personalidade de muitos que trabalham no jornalismo esportivo brasileiro – “Nao existe hierarquia em matéria de cultura como se tem em economia; mas nossos jornalistas esportivos televisuais se colocam em inferioridade em relaçao aos europeus e nao escondem uma certa lástima por nao terem nascido no chamado Primeiro Mundo”.
Eric Ohtake
Não é possível que apenas 1 ou 2, guardem o grande segredo. Para mim, a realidade de alguns é muito mais distorcida do que a da maioria que vê na organização do ‘primeiro mundo’, o exemplo a ser seguido. Concordo também que não devemos nos diminuir tanto, entretanto, a arrogância de achar que já estamos lá também pode nos atrasar.