Aqui como aí a midia está sempre sob suspeita e revelando suspeitos

Durante muitos anos na Argentina, o jornalismo de investigaçao esteve erradicado da grande mídia, assim como as denuncias de corrupçao. Hoje, tempos depois, o mais difícil aqui é poder discernir entre denúncias sérias ou aquelas que pipocam todos os fins de semana nos canais opositores ao governo, uma espécie de esforço constante de tentar convencer todo um país de que sao governados há dez anos – e duas reeleicoes democráticas depois – por uma quadrilha de corruptos mal intencionados, que governam adotando medidas autoritárias, apoiadas por sua maioria parlamentar, com o único perverso objetivo de se enriquecer ou satisfazer um instinto sadomasô.

Para bom analista, meia conclusao basta. É fácil concluir que o que este governo vem fazendo – o mais democraticamente possível – é cumprir um programa, promessas eleitorais, num ritmo responsável, com muitos acertos e alguns erros, mas com a coragem que o respaldo popular, habilitado por uma repetida esmagadora vitória eleitoral, ocorrida também no âmbito do Congresso Nacional. Todo este poder termina em 2016, mas a liderança política de Cristina vem contemplando com unhas e dentes o respeito à uma desafiadora realidade financeira de longo prazo, que exige medidas corajosas para manter erguida uma economia ressuscitada de dez anos, que logicamente ainda demonstra estar bastante frágil para caminhar sozinha com as próprias pernas.

O mecanismo do denuncismo da grande mídia é perigoso e perverso, principalmente para estas sociedades latino-americanas, cujo fornecedor exclusivo de fatos sao um punhado de grupos de comunicaçao, atualmente acurralados que nem gatos de barriga pra cima, por governos que vêm proporcionando como nunca antes uma rica e imprescindível discussao sobre o real significado do conceito de Liberdade de Imprensa e 4o Poder.

Apesar de tudo, a grande mídia teima em nos convencer de que nao importa mais se a acusaçao é real ou nao. Todas podem ser reais ou nao, mas se a denuncia existe, a dúvida é disseminada. Qualquer um pode dizer o que quiser sobre mim, sobre você, nós ou ele. Qualquer acusado está sempre instantaneamente envolvido em uma cortina de dúvidas, depois de uma reportagem televisiva ou uma manchete semanal.

Aqui, nos últimos anos, a sociedade argentina foi aprendendo a duvidar da mídia, independentemente de ideologias ou preferências políticas. O sistema público de comunicaçao e alguns poucos veículos independentes sao assumidamente pró-governo. Mas também cumprem um relevante papel. Sao os únicos que escancaram e expõem as canalhices mal intencionadas como a capa da revista Veja desta semana.

Tomara que, antes de condenar suspeitos, o Brasil tenha amadurecido e se informado sobre a história “de isençao e independência” da Veja, da Folha e de O Globo, só pra começar, e sua fúria esfomeada e opositora, antes de condenar suspeitos, suspeitosamente acusados por um (suspeitam…) acusado arrependido, chamado Paulo Roberto Costa.

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