As agendas da imprensa e do público leitor definitivamente nao estao combinando ;)

“A certeza de que o jornalismo é um bom negócio foi abalada e com ela abriu-se um espaço para retomar ideias que estao na origem histórica da atividade” – reflete Carlos Castilho em texto publicado no Observatorio da Imprensa.

Comenta – “Um dos motivos da crise no modelo de negócios da imprensa é a perda de leitores e de anunciantes. Embora existam poucas pesquisas sobre a evasao de leitores aqui no Brasil, um dos fenômenos que a motivaram é a discrepância entre as agendas da imprensa e do público. Neste aspecto, 2 pontos se destacam – a ênfase dedicada à violência e o destaque dado a questoes político-partidárias”.

“A cobertura intensiva de casos como o do julgamento do goleiro Bruno e dos crimes diários em Sao Paulo ou outras capitais brasileiras está saturando a populaçao, como mostram os comentários em redes sociais, blogs e notícias de jornais online. A imprensa insiste na tese do “se sangrar é notícia” que já está gasta, mas parece útil se a preocupaçao for semear o medo na populaçao, para que atemorizada ela se torne mais dócil. Tese com ampla utilizaçao nos EUA, desde os atentados às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001”.

“Mais defasada ainda é a agenda da imprensa sobre questoes relacionadas à luta pelo poder político. A crise do momento envolve um bate-boca entre os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), as duas casas do Congresso Nacional, organizaçoes policiais e associaçoes de magistrados. Trata-se de um problema basicamente corporativo, em que cada grupo quer maiores vantagens e regalias, tudo num contexto de pré-campanha eleitoral e que a imprensa repassa aos leitores como se fossem notícias importantes para o interesse público”.

“A imprensa cobre porque tem interesses (pouco claros) nas disputas entre facçoes dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Esta é a razao pela qual dedica tanta relevância a temas que têm pouca ou nenhuma relevância para o leitor comum. E é aqui que se encontra o ponto crítico do problema’.

“Se a imprensa continuar obcecada com o jogo do poder e com os seus interesses financeiros na crise do seu modelo de negócios, ela tende a se afastar cada vez mais do público porque este tem à sua disposiçao fontes de informaçao que podem nao ser tao confiáveis como as dos jornais, mas pelo menos estao mais próximas dos interesses de leitores, ouvintes e telespectadores”.

“A crise atual mostra que nao está em jogo o desaparecimento definitivo do negócio da informaçao. Ele vai continuar, mas em escala diferente e com modelos diversos. O que está em questao é o surgimento de um novo tipo de imprensa, que vai conviver com a comercial, mas que estará voltado parta questoes relacionadas diretamente ao cotidiano das pessoas. É que o caráter público do jornalismo que foi atropelado pelos interesses comerciais”.

“O uso da cobertura noticiosa como estratégia para atingir objetivos corporativos está se tornando cada vez perceptível, o que compromete a credibilidade e confiabilidade do leitor no material impresso ou transmitido pela rádio e TV. Usar o jornalismo para obter receitas corporativas é subutilizar uma atividade que pode gerar benefícios muito maiores, se for contextualizada em ambientes sociais. As pessoas precisam de notícias para tomar decisoes pessoais e comunitárias. Hoje e no futuro, todos nós dependemos cada vez mais de notícias porque a complexidade da oferta dos problemas e da oferta de produtos só tende a crescer”.

“Essas decisoes estao ligadas a problemas como saúde, educaçao, emprego, segurança ou lazer, e nada têm a ver com questoes corporativas do STF ou dos deputados e senadores, e nem com o lobby dos conglomerados midiáticos por isençoes fiscais ou regulamentaçoes”.

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