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Bento 16 | falhou no branding e foi ineficiente na comunicaçao de massas
Faltam alguns anos e muitos textos secretos a serem revelados, para que seja possível entender a renúncia de Bento 16 e sua volta ao simples e falível Cardeal Ratzinger. Será uma daquelas histórias que de tempos em tempos serao retomadas pelos Discovery Channels do futuro, como é a morte de JFK, como foi o divórcio de Farah Diba ou a presença das forças terríveis na renúncia de Jânio Quadros.
Mas há um aspecto desse malogro que pode ser entendido melhor, por vir à tona com mais clareza – Bento 16 foi um previsível e inevitável fracasso em sua comunicaçao com as massas. O mais recente e preciso termômetro disso foi o grupo de meras 300 pessoas que compareceu à Praça de Sao Pedro assim que saiu a notícia de sua renúncia.
Começou com o nome — quantos políticos nao adorariam poder, como o papa, escolher o próprio nome? Pois Bento 16, tendo essa prerrogativa, escolheu o nome de um antecessor tido como um papa de transiçao, inexpressivo, que coincidentemente teve um mandato de pouco menos de 8 anos, em que o maior destaque foi a neutralidade e frágeis esforços de paz durante a Primeira Grande Guerra. Os antecessores de Ratzinger foram mais felizes ao escolher o nome dos dois papas pós Concílio – Joao e Paulo. Estes haviam deixado a monótona sucessao de Pios para buscar nomes de pilares da história da Igreja.
Se falhou no branding, Bento 16 foi ainda mais ineficiente na comunicaçao de massas. Na verdade, jamais foi um comunicador. Seu antecessor, Joao Paulo 2, um conservador nas ideias, era pop na aparência. Esbanjava carisma, viajava de um canto ao outro do mundo, arrebanhava milhoes de fieis, que o amavam — sem saber que seu grande mentor era ninguém mais do que o intelectual, teólogo, filósofo poliglota e conservador Joseph Ratzinger.
Sua fisionomia nao ajudava, mas o que parecia ser seu maior obstáculo nao era a semelhança com o Palpatine de Guerra nas Estrelas, mas sim uma certa inapetência para o trato popular. Nao parecia se sentir à vontade com o povo. Teve grandes embates intelectuais, fez textos importantes de análise das religioes – que ninguém viu.
Num mundo que acabava de mostrar a importância do homem-marca, com o rojao Steve Jobs fazendo com suas criaçoes a maior empresa do planeta, Bento 16 acreditou demais no produto que oferecia. Nao se deu conta de que, se este já trazia problemas graves, ele sempre esteve longe de ajudar a superá-los.
Ratzinger nao entendeu seu papel. A liçao que deixa é a clareza de que poder nao depende apenas de querer. Ou, marqueteiramente, no composto de marketing, o produto nem sempre é tudo – muitas vezes, sequer é o principal.
imagem caricatura em goncalvesblog.blogspot.com.br
Mauricio Machado
Concordo no geral mas acrescento: faltou conteúdo no ‘produto’. Sem isso não se faz branding. E além disso, Ratzinger tinha os meios mas não tinha a mensagem.
Anderson
Excelente texto.
Nosso papa está fora da gôndola.
Próximo!
Jayme
Mauricio, no trilho da comunicação, o que faltou a Ratzinger foi o interlocutor.
Anderson, os fornecedores vão ter de pagar um dobrado pra fazer essa reposição.
Julio Winck
Comparar um líder religioso com um líder empresarial é um tanto estranho. Steve Jobs mandava na Apple com mão de ferro, era teimoso demais muitas vezes e não se preocupava com a reação dos pares, enquanto um Papa exerce um cargo bastante político. Sim, todo líder religioso enfrenta oposição dos seus pares, além de todas as dificuldades inerentes ao cargo.
Jayme
Julio, toda analogia é, por natureza, uma redução. Mas a prova de que a Apple (ou qualquer grande corporação) é uma instituição também política foi a primeira saída de Jobs da empresa, praticamente expulso. Assim como foi política a decisão de Gil Amelio de trazê-lo de volta em 1997.
Beto Lima
Se o Papa não conseguiu ser um mero comunicador, porque esperar que ele saiba, ou alguém ao redor dele, o que é branding…menos por favor :)
Átila Francucci
É uma pena que na época de Jesus Cristo não existiam os intelectuais de branding.
Seria delicioso poder rever os diagnósticos escritos na semana pós crucifixão versando sobre o “fracasso de branding do carpinteiro que dizia ser Deus”.
Jayme
Beto, de fato não é o caso de um papa saber o que é branding :)
Átila, não há intelectuais de branding.