Boataria eleitoral assusta partidos e eleitores – Carlos Castilho no Observatorio

Por Carlos Castilho – texto publicado no Observatorio da Imprensa.

A boataria passou a fazer parte do nosso quotidiano e teremos que conviver com ela e suas consequências. Há pouco tivemos o caso do linchamento e morte de uma dona de casa em Guarujá (SP). Depois tivemos o caso do boato que acabou se tornando um dos responsáveis pela paralisaçao ilegal de um grupo de motoristas e cobradores de ônibus da capital paulista. E no dia 25 de maio a imprensa revelou que o PT, PSDB e PSB estavam preparando estratégias para conter a proliferaçao de boatos em redes sociais na internet, na campanha para as eleiçoes presidenciais de outubro.

É o preço que estamos tendo que pagar pela conquista do poder de publicar opinioes na internet sem passar pelo crivo da imprensa. Há muita gente que lamenta este fato, mas é impossível voltar atrás. Seria o mesmo que tentar desinventar a televisao, o motor a combustao interna ou a roda. O jeito é aprender a conviver com a inevitabilidade de informaçoes inverídicas ou distorcidas por meio de uma permanente leitura crítica do noticiário diário.

Embora ofuscada pela maciça propaganda em torno da Copa do Mundo, a campanha eleitoral para a sucessao presidencial de outubro surge como a grande arena para a boataria online. Os 3 partidos envolvidos diretamente na disputa presidencial criaram grupos especializados para lidar com os boatos, mas pelas informaçoes divulgadas até agora todos eles pretendem travar a guerra na Justiça em vez de fazê-lo no ambiente digital.

Tudo indica que a estratégia dos principais aspirantes ao Palácio do Planalto será recorrer à legislaçao eleitoral, o que pode ser uma proposta arriscada, pouco eficiente e que em vez de acabar com os boatos poderá avivá-los mais ainda. Um boato nao se proíbe, mas, sim, se neutraliza com informaçao veraz e confiável – Além disso, é muito complicado identificar o autor de uma informaçao falsa circulando na rede, já que ela é repassada centenas e até milhares de vezes entre usuários da internet.

É aí que parece estar a principal debilidade da estratégia dos políticos na previsível guerra de informaçoes. Em campanhas anteriores, a grande preocupaçao era fazer propaganda do candidato, mas na era da internet o que vale é o tipo de dados e informaçoes que os partidos fornecerao aos eleitores indecisos. A estratégia dos partidos era tentar convencer o eleitor, em vez de ajudá-lo a tomar uma decisao – uma atitude impositiva em vez de uma postura colaborativa.

A conjuntura mudou porque aumentou o volume de informaçoes disponíveis na internet, contribuindo para que o eleitor passasse a ter mais versoes para um mesmo fato – o que aumentou o seu ceticismo e desconfiança em relaçao às promessas eleitorais. Com isso, tornou-se necessária uma nova estratégia para reconquistar a atençao das pessoas.

É previsível a ocorrência de boatos grotescos que podem ser facilmente enquadrados na legislaçao eleitoral, mas o que provavelmente mais preocupa os partidos sao os casos sofisticados, quando é difícil rotular o tipo de mensagem que está circulando na rede. O boato com aparência de verdade é o mais perigoso porque pode destruir reputaçoes e o mais difícil de bloquear, porque se alimenta da dúvida, da curiosidade e da morbidez.

A preocupaçao em usar a Justiça para punir o adversário pode até dar certo em alguns casos, mas o que mais renderá votos é a preocupaçao em saber como o eleitor está reagindo aos boatos. A internet criou comportamentos políticos novos entre os eleitores diante da velocidade e amplitude da circulaçao tanto de informaçoes verídicas como de rumores ou boatos. Com isso aumenta a possibilidade de mudanças súbitas e inesperadas no comportamento dos votantes. Para identificar esses movimentos é imprescindível estar atento ao tipo de preocupaçao do eleitor.

As grandes redes sociais já sabem que estarão no centro da polêmica e podem acabar como vilãs na boataria. Por isso tratam de minimizar os eventuais prejuízos a sua imagem corporativa, mas é evidente que elas nao podem controlar seus usuários no caso de uma guerrilha de boatos digitais. O certo é que, à medida que avançamos na era digital, a disputa de votos em campanhas eleitorais passa a ser uma batalha informativa.

Os métodos tradicionais de valorizar a imagem pessoal ou o recurso ao corpo a corpo nas ruas para seduzir eleitores e conquistar simpatias perdem terreno para formas mais sutis de persuasao vinculadas ao uso da informaçao, um item imaterial e complexo que é fácil e barato para disseminar, mas muito difícil para avaliar, principalmente em situaçoes emocionalmente carregadas – como uma eleição presidencial como a que nos espera em outubro.

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