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Brasil | O avanço do obscurantismo e da perda da generosidade | Luis Nassif
No jornalggn – 1 texto para ler e guardar e reler
Nos últimos anos, a orquestraçao da opiniao pública dependeu de 2 discursos polarizadores: o da presidência da República e o da chamada velha mídia (os 4 grupos jornalísticos do eixo Rio-Sao Paulo que dominaram o mercado de opiniao nas últimas décadas, assumindo o papel da oposiçao).
Essa orquestraçao se dava em cima de uma partitura de fácil assimilação: a luta do “bem” contra o “mal”. Do lado da mídia, o “mal” era representado por um governo que ameaçava o país com o “chavismo”, o “castrismo”, o “bolivarianismo” e outros mitos da guerra fria. Do lado do governo e do PT, um país ameaçado pelo que ficou batizado como o PIG (Partido da Mídia Golpista), com pitadas conspiratórias de forças externas.
Aí ocorre a implosao dos sistemas de controle no mercado de opiniao e no Parlamento. No mercado de opiniao, devido à explosao das redes sociais; no Parlamento, devido à falta de coordenaçao política e à formaçao de maioria a qualquer preço. Hoje em dia, os sinais da falta de rumo estao em todos os pontos.
No governo Dilma Rousseff, a nao ser a bandeira das políticas sociais, nao se percebe 1 rumo político, nao apenas nas políticas econômicas erráticas, mas em relaçao a temas políticos, morais, a políticas de direitos humanos contemporâneas. O senso de sobrevivência política se sobrepôs a qualquer princípio político.
Na oposiçao midiática, nao se vislumbra o mais leve sinal de propostas alternativas, apenas a crítica destemperada, radical, caricata de uma legiao de Beatos Salú prevendo o fim do mundo e o extermínio do mal e o fim das políticas sociais.
O resultado é o advento de propostas obscurantistas de todos os naipes. O Senado está a ponto de comprometer 15 anos de batalhas pela educaçao inclusiva. Basta uma manifestaçao ruidosa de defesa dos animais, para o Congresso colocar em risco todas as pesquisas de vacinas do país, anunciando a votaçao, em regime de urgência, de lei que proíbe testes clínicos em animais. Na Comissao de Direitos Humanos, um pastor homofóbico conduz os trabalhos e os mais ruidosos homofóbicos – como esse inacreditável Silas Malafaia – sao disputados por políticos de todos os partidos. Por modismo, ganha força um movimento ambientalista contra qualquer forma de exploraçao racional de energia na Amazônia.
Na disputa partidária, há uma ausência de grandeza, de generosidade, que transformou a disputa política em uma arena de gladiadores sem escrúpulos.
Vendo Fernando Henrique Cardoso celebrar a desgraça dos adversários, à luz do calvário de José Genoíno, veio-me à memória Mário Covas.
Se vivo fosse, provavelmente Covas sairia de Sao Paulo, iria até Brasília e, desavenças políticas à parte, levaria seu abraço a Genoíno. E todo militante tucano estufaria o peito, de orgulho do seu líder, como os petistas, quando Lula abraçou FHC no velório de dona Ruth.
É uma fase de transiçao. O país nao é mesquinho como parece ter se tornado nos últimos tempos. É questao de tempo para que novos ventos surjam trazendo de volta o discurso da mudança, da solidariedade e da pacificaçao nacional.
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