Com protestos, web deixa TV para trás | Nelson de Sá hoje na Folha

Materia publicada no Toda Midia

No dia 17, a argentina Mirta Varela seguiu o protesto no Rio – “Inicialmente, havia um clima festivo, cançoes, meninas com flores no cabelo. Mas uma hora depois o clima já ficou tenso, pelos helicópteros sobrevoando”

Varela, professora titular de História dos Meios de Comunicaçao da Universidade de Buenos Aires, também seguiu os protestos pela internet e pela televisao “todos os dias”, desde que chegou ao país há 3 semanas, para conferências. E aponta nos mesmos helicópteros o divisor entre o que se vê nas redes sociais e nas emissoras – “A cobertura de TV se dá longe dos manifestantes, de um ponto de vista externo” – repara – “É o contrário das cenas do Cordobazo, protestos na Argentina, em 1969”.

Ela relata que nos anos 1960 “as câmeras leves eram novidade e permitiram captar os fatos de dentro”, o que contrastou com as panorâmicas que haviam registrado as manifestaçoes peronistas dos anos 1940 – “A cobertura brasileira, agora, retorna às panorâmicas” – registra Nelson – “E as imagens distantes sao acompanhadas por vozes dos jornalistas” e de analistas convidados, nao de manifestantes, ou seja, “o monopólio da palavra é da TV” – conforme a entrevistada.

Apesar disso, a suspensao da programaçao da Globo para cobrir as manifestaçoes do dia 20 “traz uma mensagem muito clara: o importante já nao acontece na TV, mas nas ruas”.

Segue Nelson de Sá

Esther Hamburger, professora livre docente da Escola de Comunicaçoes e Artes da USP, autora de ‘O Brasil Antenado’ (Jorge Zahar, 2005), ressalta que a internet exacerbou as relaçoes, com efeito direto sobre a mobilizaçao para protestos – “Antes já existia um vínculo entre TV e movimentos, porque os manifestantes se veem e se inspiram. Com a web, acontece uma coisa que o urbanista e filósofo francês Paul Virilio fala, que é o excesso de contato que as novas tecnologias trazem. Acontece a intensificaçao das relaçoes”.

Mirta Varela, que acaba de publicar ‘Masas, Pueblo, Multitud en Cine y Televisión”‘ (Eudeba), avalia que a atuaçao das redes sociais nos protestos brasileiros “permite fazer circular algo que a TV nao apresenta, que sao as imagens de dentro dos acontecimentos e os múltiplos pontos de vista”. Um exemplo seriam as transmissoes ao vivo do coletivo Ninja, no site PosTV, que se disseminaram via Twitter e Facebook.

“Twitter e outras ferramentas de mídia social nao sao redes descentralizadas”, anota Sandra Gonzalez-Bailon, pesquisadora do Instituto de Internet da Universidade de Oxford. Pelo contrário, reproduzem hierarquias extremamente verticalizadas, em que alguns eixos, perfis com grande número de seguidores ou fãs, concentram o potencial de mobilizaçao.

Para registro, no mês de junho, até o dia 24, 216 mil pessoas diferentes escreveram nas redes sociais Twitter, Facebook e Google+ sobre os protestos no Brasil, somando 358 mil posts.

É o que relata um levantamento feito pelas empresas iCustomer e Odiseo (publicado como infografico exclusivo pelo Blue Bus) com base em 29 palavras e “hashtags” associadas às manifestaçoes, como “passe livre” e “#vemprarua”. Os posts explodiram a partir do dia 13, com a convocaçao e depois a reaçao online ao protesto que resultou, em Sao Paulo, a partir da esquina da rua da Consolação com a Maria Antonia, em uma “noite de caos” e violência policial.

O levantamento indica que, se a mobilizaçao nasce nos perfis de Facebook, com as convocaçoes para cada nova manifestaçao, a cobertura se dá mais via Twitter. Do total de internautas que escreveram sobre os protestos até o dia 24, 65% postaram no Twitter e 30% no Facebook. Para Jacqueline Lafloufa, editora-executiva do site de mídia Blue Bus, os números maiores do Twitter refletem seu “caráter de broadcast”, de transmissao, com viés mais “informativo, de distribuiçao de conteúdo”.

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