“DNA da marca”? Fala sério! – e mais 1 monte de clichês como “perda irreparável”

Nao, nao, por favor! ‘DNA da marca’ nao dá mais. Rogo, vamos falar de essência, sentidos, tônica, o bom e velho ‘características’. Melhor ainda, vamos dizer com clareza quais sao os aspectos determinantes de uma marca, mas chega de DNA.

Um clichê tem data de vencimento. O ciclo começa quando 1 novo termo ou conceito – ou mesmo uma nova e simples analogia, como a que refere o pobre e belo ácido desoxirribonucleico – realmente confere originalidade a uma designaçao. Ela entao vira sucesso e cai na boca do povo. Nada mais justo, é sinal de que a língua é dinâmica e que uma nova expressao é bem-vinda. Mas chega um momento em que chega!

‘DNA da marca’ alcançou um ponto que parece o de alguns símbolos religiosos – a maioria dos devotos nao sabe bem o que designam, mas os repete por medo de pecar (ou de passar vergonha, o que é mais ou menos a mesma coisa).

Neste momento, dou uma folga ao meu agnosticismo e rezo para que ‘DNA da marca’ (ou de qualquer coisa que nao seja gene, cromossoma ou correlatos) vá para o mesmo céu aonde já rumam o ‘atendimento personalizado’, a ‘comunicaçao integrada’, o ‘branding’ (este quando colocado como sinônimo de qualquer forma imaginável de comunicaçao, como ‘Promochampions Branding e Eventos’, ‘Lambda – Branding em Figurinhas’, ‘Lotocerta Zoobranding”), e ainda o ‘designer gráfico’ (quando substitui o bom e velho ‘diretor de arte’). Ah, sim, e a ‘agência enxuta’ ;) O desconfiômetro seja louvado. Amém.

A proposito, falar de Décio Pignatari resultará pouco, perto da dimensao do poeta, tradutor, crítico, ensaísta, professor, teórico da comunicaçao, artista gráfico e, nem todo mundo sabe, publicitário bissexto. Mas, com Décio como pretexto, quero mencionar aqui mais um clichê absolutamente inaplicável em casos como o dele – o de “perda irreparável”. Quem legou ao mundo o que Décio legou será melhor chamado de “ganho irreparável”. Oue, parafraseando Gilberto Gil, nao há o que reparar. Décio saiu no azul.

Em tempo – aqui neste link vcs vao achar um anúncio criado pelo Décio para o medicamento Disenfórmio, em 1960 ;)

Imagem da nota meramente ilustrativa

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