E no fim das contas, o calendário maia estava certo | Jayme Serva

Apesar de uma antiga irritaçao, uma espécie de alergia crônica chamada dezembrite, desta vez eu me rendo – vou lembrar o ano que está acabando. Ou melhor, o fim do ano. Sim, porque, na maior parte do tempo, 2012 teve tudo o que um ano comum tem – e que faz dos programas de retrospectiva na TV uma chatice tao imensa que, perto deles, a Voz do Brasil parece um filme do Spielberg.

Todo ano tem as tragédias da guerra (qualquer guerra, todo ano tem guerra), com suas explosoes, adultos desesperados carregando crianças feridas, sempre mostrando como somos incapazes de gerir a nós mesmos. Todo ano tem invençoes científicas incríveis, que mudaram o curso da história (por uns meses, ao menos). Pai Jaú, Madame Margot e o Professor Salume adivinharao o próximo ano inteirinho. E as mortes? Como diria o velho e sábio Gaeta, meu avô, todo ano morre gente que nunca tinha morrido antes. As mensagens de esperança, entao, virao às dezenas, ilustradas por cenas da paraolimpíada, o nascimento de um bebê pelas maos de um bombeiro denodado, a mae que encontrou a filha depois de 30 anos, o menino que impediu uma tragédia.

Tudo caminhava pela mesma trilha de todos os anos anteriores, até que, perto do apito final, as bizarrias começaram. O Economist estampa a presidenta do Brasil como uma rena de nariz vermelho. O papa vem a público, nao para condenar camisinhas e muçulmanos, nem para louvar a castidade e a contriçao, mas para anunciar sua nova conta no Twitter. Lembra do salário do CEO da Apple, aquele número cheio de zeros, que todo ano fazia a gente contar quantas centenas de idas a Paris, de barras de ouro ou de Porsches ele poderia comprar? Caiu 99%.

Já seria suficientemente bizarro. Mas ainda faltava o choque final, o trailer do Apocalipse – a capa da Playboy é… uma virgem! Protejam-se, incréus. O calendário maia estava certíssimo.

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