Eleiçoes presidenciais | Argentina entre a força do discurso e a contundência da História

A Argentina decide hoje, pela 1ª vez na história em um 2º turno, quem será seu novo presidente pelos próximos 4 anos. Em disputa, 2 modelos antagônicos de governo.

De um lado, Daniel Scioli, candidato da situaçao, que propoe a continuidade do modelo econômico que praticamente ressuscitou o país depois da crise de 2001. Maior participaçao estatal na economia, com a estatizaçao de empresas estratégicas, apoio ao fortalecimento da indústria nacional e crescimento do consumo interno, com controle de importaçoes e taxaçoes a exportaçoes foram algumas das receitas que puderam recolocar a Argentina nos trilhos do desenvolvimento.

Do outro lado, a proposta de direita neoliberal, liderada pelo empresário Mauricio Macri, chamada Cambiemos (Mudemos), mas que nos últimos meses nao fez mais que reivindicar políticas estratégicas do governo do qual foi sempre opositor. Nao é uma contradiçao, mas sim uma aposta no poder do discurso, da palavra fácil. Isso porque durante os 12 anos em que esteve na oposiçao, o PRO, partido de Macri, votou contra todas as leis que fundamentaram as políticas básicas dos 3 mandatos do governo Kirchner, que agora dizem defender.

Entre as leis que o PRO votou contra e que agora reivindica estao: estatizaçao da Aerolineas Argentinas, dos fundos de pensao, da petroleira YPF; Lei de Matrimônio Igualitário e de Fertilizaçao Assistida, que garante atendimento gratuito para casais que nao podem ter filhos.

O poder de convencimento do novo discurso de Macri, que contradiz o histórico de decisoes de seu partido, pôde ser comprovado no 1º turno destas eleiçoes. A estratégia do discurso funcionou. Inesperadamente, e contrariando todas as pesquisas de opiniao prévias à eleiçao, Macri obteve uma surpreendente votaçao no 1º turno. Ficou a apenas 2 pontos percentuais atrás de Daniel Scioli. Hoje é considerado favorito, apesar de que praticamente nao foram divulgadas pesquisas de opiniao para este 2º turno.

Palavras o vento leva, leis garantem direitos e a Historia é a História. Nada é para sempre e uma eleiçao presidencial nao é a final de um campeonato de futebol. Quem ganha tem que governar, governar e governar. É difícil imaginar que o neoliberalismo possa fazer a Argentina retroceder no tempo em relaçao a conquistas populares desta última década. O resto será democracia e História.

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