Tweet |
Em ingles quer dizer uma coisa, em português outra completamente diferente
Os falsos cognatos estao virando cognatos verdadeiros! Falsos cognatos, pra quem nao lembra, sao aquelas palavras que, em inglês, querem dizer uma coisa, e sua assemelhada em português, outra. Exemplos muito conhecidos – ‘to realize’ = ‘perceber’ (e nao ‘realizar’), “to pretend” = “fingir” (e nao “pretender”). Pois nao passa ano em que nao se veja os alegres tradutores do mundo dos negócios trocarem o cognato de lá pelo de cá, e traduzir um pelo outro. Assim, “plant” (unidade fabril) virou “planta” (“A ACME vai inaugurar uma planta em Itaboraí”), “appointment” (compromisso) virou “apontamento” (“Nao posso ir ao almoço, tenho um apontamento com o diretor de produçao”), “preservative” (conservante) virou preservativo (“A nossa gelatina tem menos preservativos que a gelatina do concorrente”). Já antevejo o depoimento, num futuro próximo –
“Consigo tudo por ser confidente. Insisti, e eventualmente meu marido me deu uma fábrica vermelha, muito esquisita, e agora eu vou poder atender a leitura da Beatriz de Carvalho, com toda aquela ingenuidade que só ela tem. Me enrolei há 6 meses – eu tinha de gripar essa oportunidade. Afinal, nao é sempre que se pode atender a uma legenda”.
Nao entendeu? É só esperar mais uns 3 ou 4 anos. Aí, essa já será linguagem corrente nos mais finos saloes de eruditos (ou seria de “escolares”? :)
Para os impacientes, traduçao abaixo –
“Consigo tudo por ser confiante. Insisti, e finalmente meu marido me deu um tecido vermelho, muito belo, e agora eu vou poder assistir à palestra da Beatriz de Carvalho, com toda aquela engenhosidade que só ela tem. Me inscrevi há 6 meses – eu tinha de agarrar essa oportunidade. Afinal, nao é sempre que se pode assistir a uma lenda” :)
Aderson Lima
Faltou colocar o texto em inglês. Mas legal.
Jayme
Pois é, Aderson esses texto ssão feitos diretamente em português — daí a tradução português-português :)
Leo
Jayme
Virei tradutor por acaso, não sou formado em letras e nunca fiz curso de inglês. Aprendi sozinho com assuntos de meu interesse (os quais traduzo hoje) e certifiquei minha proficiência.
Acho que o que faz um bom tradutor é o conhecimento técnico aliado a um bom conhecimento tanto em português quanto em inglês e, acima de tudo, a percepção para compreender os jogos de linguagem – que leva a muita pesquisa para certificar que está sendo feita uma versão, e não uma simples tradução de palavras combinadas.
Mas noto que há muitos tradutores profissionais (muitos mesmo), formados em letras, com currículo volumoso, que cometem erros bobos pelo excesso de confiança ou talvez por soberba.
É muito desanimador que as traduções sejam tão ruins em certos casos. Há documentários, matérias de revistas, sites etc com erros grosseiros.
Como se não bastasse a barreira do idioma, quando a gente consegue superá-la acabamos tropeçando e a derrubando.
Jayme
Leo, pode ter certeza de que vc tem um talento inato. São raros os tradutores autodidatas, mais raros ainda os que driblam as armadilhas da língua a traduzir. Um exemplo de que me lembro é o Alberto Mussa, que começou a traduzir do árabe a partir dos fragmentos que recuperava das falas em família. Há traduções que constrangem. É o caso do título do best-seller “The Physician”, que virou “O Físico”, em vez de “O médico”. Uma vez, vi uma legenda no History Channel em que o tradutore verteu “FDR” (Franklin Delano Roosevelt) por “República Federal da Alemanha” :)
Beia Carvalho
Este é meu mês de sorte! Que delícia fazer parte do seu texto, Jayme. Pra entrar no clima: “Alias”, ainda mais neste assunto que gosto tanto! rsrs. Beia
Jayme
Ahahah, “alias” é outra boa!