Facebook. Nosso amigo do bem e do mal. | texto de Berenice Ring

Todos os dias mais de 1 bilhao de pessoas pelo mundo fazem seu login no Facebook e passam em média 50 minutos percorrendo pelas atualizaçoes de status de seus “amigos”. Buscam ver o que estao fazendo seus amigos, conhecidos ou conhecidos de conhecidos. Esta atividade diária faz parte da rotina de pessoas de todas as idades, grupos sociais, crenças ou países.

O Facebook mal existia há 8 anos e agora é uma das empresas mais poderosas do mundo. Sua proposta é conectar pessoas, possibilitar sua interaçao e, como consequência, fazer com que sintam-se mais positivas. Seu sucesso é muito fácil de explicar. Nossa ligaçao emocional com o Facebook passa por uma área do cérebro que processa sentimentos de gratificaçao e prazer, chamada de nucleus accumbens. Esta regiao é ativada cada vez que ganhamos um like ou um feedback positivo. No mundo mágico do Facebook, podemos também dar um like num post de algum “amigo”: método simples e rápido para mostrar empatia a alguém. O like também serve para revelar algo sobre nós mesmos, expressar o que gostamos e concordamos e manifestar nossa forma de pensar. Postamos para satisfazer nossa “necessidade de pertencimento”, natural do ser humano. Postamos para nos sentir conectados. No mundo do Facebook a lei é “posto, logo existo”. Lá fazemos de forma simples nossos convites para eventos, conversamos com amigos e marcamos programas. No Facebook conseguimos encontrar e nos reconectar com antigos colegas de escola e amigos com quem perdemos contato. Melhor que isto? Só dois disto!

No entanto, uma série de estudos recentes tem provado que este hábito nao deixa nossos dias mais felizes. Muito pelo contrário: mostraram que as pessoas ficam mais tristes e solitárias, além de reportarem falta de foco e distraçao no trabalho. Está aí um outro lado do Facebook que, se observarmos com mais atençao, podemos também compreender. Em 1º lugar, porque quando entramos no Facebook, geralmente buscamos algo específico, mas o que acontece é que somos “sugados” pelas notificaçoes e comentários que vao entrando e geralmente esquecemos até o que fomos inicialmente fazer ali.

E os efeitos sobre nós do fluxo constante de “boas notícias” que vemos no Facebook pasme, sao terríveis! Faz com que percebamos nossa própria vida como ruim. Avaliamos nossos dias comparando com o que lemos nos posts. O Facebook gera um fluxo infindável de oportunidades para nos compararmos com nossos “amigos” – através das fotos felizes de suas férias, das imagens de suas famílias, fotos com seus namorados, suas atualizaçoes de emprego, e assim por diante. Como os acontecimentos ótimos de um dia rotineiro de nossas vidas ocupa em média 10% de nosso tempo, quando muito, nossa percepçao é de que nossa vida nao é boa. Esta comparaçao com os outros nos estressa e nos deprime. O que o Facebook faz é distorcer nossa percepçao de realidade e do que parece ser “a vida dos outros”.

Os outros, por sua vez, criam suas personas no Facebook, que representam aquelas pessoas que gostariam de ser e da vida que gostariam de ter. Postam apenas o seu melhor. Fotos retocadas mostrando seu melhor ângulo, textos editados contando somente o melhor da balada do dia anterior e contam apenas seus sucessos. Desta forma, é claro que a persona do outro é muito melhor do que a minha pessoa da vida real!

Além disto, jovens de hoje reportam que nunca estao satisfeitos com o programa que fizeram em seu tempo livre. Escolhem o que fazer pelo Facebook e, nao importa o que escolham, sempre tem a sensaçao de que sua escolha foi ruim. Cada um deles sempre haverá de achar que a escolha do programa que deixou de ir teria sido muito melhor que a sua, olhando as fotos postadas por seus amigos no dia seguinte.

O Facebook pode até levar à depressao quando usado para acompanhar a vida de conhecidos. Se este conhecido estiver indo muito bem financeiramente, a atividade de seguir seus sucessos pode levar-nos a uma percepçao de fracasso. Se você vive bem sozinha, mas ficar acompanhando relatos de sua amiga contando como é maravilhosa sua relaçao amorosa, pode vir a deprimir-se e sentir-se solitária.

Como professora de pós-graduaçao, sinto na pele um outro aspecto da questao. Quando peço aos alunos para que desliguem seus laptops e smartphones para assimilarem melhor a aula, percebo que ficam extremamente inquietos. Como sobreviver a uma hora de aula sem a companhia de seus adorados smartphones? Sem suas redes sociais? Como focar sua atençao em um assunto apenas? O Facebook pode ser viciante. Percebo que estes alunos tem hoje dificuldade de estar plenamente presentes em um lugar apenas.

Obviamente, o Facebook faz parte de nossa vida conectada e nao proponho que risquemos sua presença de nossa existência. De modo algum! Mas acredito que precisamos voltar a buscar atividades que alimentaram nossa alma até 8 anos atrás, antes de sua existência. Talvez deveríamos nos lembrar de como nos sentimos bem ao buscar atividades como estas:
• Desconectar-se e desacelerar.
• Prestar mais atençao a cada tarefa que estamos fazendo.
• Passear na rua. Andar mais devagar. Olhar para o céu e perceber a forma das nuvens.
• Marcar encontros com amigos. Nao mandar apenas inbox.
• Visitar mais nossos pais ou avós.
• Passear num parque. Sair para ver o pôr-do-sol.
• Plantar uma horta.
• Ir a um concerto e a uma exposiçao de arte.
• Doar tempo para uma causa que apoiamos.

Faça você a sua lista e perceba como as alegrias do Facebook podem se transformar em experiências gratificantes na vida real.

* Berenice Ring é coordenadora do curso de Branding do PEC-FGV, diretora da Fox Branding e autora do livro “TSUNAMI: porque as empresas que surfam esta onda gigante chegam à frente de seus concorrentes

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