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Festivais no século 21 – a Flip e a Flupp | texto da Tania Savaget
foto Olivia Harris / Reuters
O último livro do historiador Eric Hobsbawn que chegou por aqui, Tempos Fraturados, foi editado depois da sua morte, aos 95 anos, em outubro do ano passado. Seus artigos falam sobre cultura e sociedade no século 20 e, entre ótimos textos, alguns deles sao exclusivamente dedicados aos festivais. Em sua visao, os festivais do Século 21 já fazem parte so complexo da indústria do entretenimento e sao cada vez mais importantes do ponto de vista econômico. Festivais de música, arte, cultura, literatura se juntam a grandes eventos esportivos, como a Copa e as Olimpíadas, movimentando o turismo e atraindo públicos variados para seus países sede.
Globalizados como os campeonatos de futebol, eles trazem características diferentes. Os de música, com a ascençao da cultura jovem, dao bastante importância à experiência, com boas doses de interatividade e ligadas à autoexpressao coletiva. Sao celebraçoes organizadas, que podem misturar gêneros ou dar foco a um único gênero, como o heavy metal. Para gêneros nos quais a experiência é mais individual do que coletiva, como óperas e jazz, os formatos sao menores e costumam acontecer em circuitos que fogem dos grandes centros, como Londres e NY. Os festivais literários seguem esta fórmula: acontecem em cidades menores porque dependem de interesses e sentimentos comuns de um grupo que se identifica e se expressa. A Flip, em Parati, segue este modelo.
Parte de um modelo que também acontece em Mântua, na Itália, Cartagena, na Colômbia e Segóvia, na Espanha, ela já chegou a sua 11ª ediçao. Ao longo do tempo, o público foi se expandindo e as atraçoes culinárias e culturais em torno da literatura também. Este ano, Gilberto Gil subiu ao palco e comentou sobre a semelhança entre a platéia da Flip e da Fifa, referindo se à Copa das Confederaçoes: classe média alta, carioca, paulista, branca. Outro autor presente, Juan Pablo Villalobos, disse que é “um espelho do que é o Brasil”. Mas fiquei feliz em ver que, mesmo que ainda pequeno, um outro reflexo do país, a Flupp, Festa Literária das UPPs, atraiu 7 autores estrangeiros que toparam falar, gratuitamente, na Penha, Rio de Janeiro. Acho que Hobsbawn, marxista de carteirinha, ia gostar disto :)
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