• 
• Jayme Serva
• 19/04/2013 - 8:34
• Outras do autor
• esporte, eventos
• 3 Comentários

Tweet

Hoje é dia de índio – Índio heroi, Índio Mané | texto do Jayme Serva

Entre o dia em que o Marechal Rondon teve a ideia e o lançamento do sucesso de Jorge Ben, pela voz de Baby Consuelo, passaram-se 4 décadas. ‘Todo dia era dia de índio’ relembrou uma data que até entao era um segredo guardado no miolo das agendas Tigre. Foi Jorge depois Benjór quem colocou o 19 de abril na folhinha.

E qual é o índio que esse 19 de abril celebra? Efemérides celebram herois ou mártires. O Dia do Índio de Rondon, no fundo, celebrava o próprio Rondon, que tentava evitar o martírio dos nossos irmaos mais velhos, surrupiando-lhes assim uma das condiçoes de serem celebrados. O índio da nossa memória de infância se parece mais com um apache ou um shoshone, apesar do esforço de tantos, Darcy Ribeiro, os irmaos Vilas-Boas, Claudia Andujar, Egberto Gismonti.

Há um, talvez único, representante símbolo para esse dia. Um heroi e mártir – Mané Garrincha. Em seu estupendo ‘A Estrela Solitária’, Ruy Castro conta toda a história de Mané, mas é nas primeiras páginas do primeiro capítulo que ele conta o grande segredo do livro, aquilo que ninguém sabia até ele contar. Garrincha era índio. Era metade fulniô, uma pequena etnia que habitava uma área reduzida do litoral de Pernambuco, e que foi obrigada a fugir como pôde dos dematamentos e desmandos de seu tempo. Vieram parar no Estado do Rio de Janeiro, nas fraldas da Serra da Canastra. Ali nasceu Garrincha, que viveu seus primeiros anos quase como um pequeno indígena – nao por herança cultural dos pais, mas por um quase abandono cotidiano.

Garrincha venceu todas as batalhas que disputou com os louros europeus de todas as origens, germanos, saxoes, francos, celtas, ostrogodos. Bebeu até cair do outro lado do precipício, como seus irmaos fulniô e muitos dos quase irmaos índios. Soube se mexer pelo mato, reinando sobre peixes e passarinhos. Tinha, de fato, o priapismo que Macunaíma exibia nas letras – era heroi invejado no imaginário do macho branco. Era o melhor. Perdeu no fim. Um índio. Um de nós.