IAB x Adblock: e a criatividade? | texto do Marcelo Coutinho

O “desconvite” do IAB para os representantes do Adblock Plus participarem do seu encontro de lideranças guarda semelhança com as gravadoras e o Napster no início do século XXI. Embora existam relatos que os criadores do Napster tentaram criar algo em conjunto com as empresas, elas preferiram tentar barrar a inovaçao através de mecanismos legais (para mais detalhes recomendo o excelente “Appetite for Sel-Desctrution: the spectacular crash of the Record Industry in the Digital Age“).

Trata-se de um padrao recorrente quando setores sao ameaçados de disrupçao: em 1984 a Associaçao dos Produtores de Cinema dos EUA perdeu na Suprema Corte uma açao contra a Sony, na qual acusava a criadora do Betamax (um padrao de reproduçao de videocassete) de infringir leis de copyright com base no fato de que o manual dos aparelhos traziam instruçoes sobre como gravar programas de TV, permitindo assim a “time shifting TV viewing“. Nada de novo sob o sol, nao é Netflix?

Os Adblockers nao sao causa, mas sintoma do desajuste do ecossistema publicitário: a maneira pela qual operamos durante décadas está perdendo eficiência nao somente por causa das mudanças nos formatos de comercializaçao (mídia programática, ad exchanges, etc) mas principalmente pelo fato de que o consumidor nao sente que sua cada vez mais escassa atençao está sendo adequadamente “recompensada” pelo conteúdo publicitário que lhe é exibido. Volto a lembrar do que escreveu em 1971 Herbert Simon, ganhador do Nobel de Economia de 1978: a abundância da informaçao cria a escassez da atençao e a necessidade de aloca-la de forma mais eficiente diante da superoferta de fontes que podem consumi-la.

Com certeza a indústria vai encontrar maneiras de combater os Adblockers, seja pela via tecnológica, seja impedindo seus usuários de acessarem o conteúdo “nao-publicitário”, como recentemente fez o Yahoo. Não acho que é “o fim da publicidade como a conhecemos“, mas o recado dos mais de 200 milhoes de consumidores que já instalaram este tipo de software é claro: se nao formos capazes de desenvolver conteúdos e formatos de entrega mais criativos e menos intrusivos, o caminho do negócio de agências e veículos nao é o do crescimento, mas sim o do encolhimento.

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