Imprensa nao se alinha c/ a sociedade e falha no s/ papel critico em relaçao ao gov

Por Luciano Martins Costa hoje no Observatorio

Os jornais recebem com naturalidade a mais recente pesquisa de opiniao CNI/Ibope, que mostra o crescimento da popularidade da presidenta Dilma Rousseff e da aprovaçao ao seu governo. Quando um fato surpreende, os redatores de títulos costumam repassar o efeito da novidade aos leitores, como parte da tática para manter o interesse nos textos. Mas nas ediçoes desta 4a feira, 20, os dados sobre a imagem da presidente e a reputaçao do seu governo nao parecem ter surpreendido as redaçoes, apesar de, na rotina, os jornais andarem na contramao da opiniao majoritária da populaçao. Esse evento coloca em evidência, mais uma vez, a questao da falta de alinhamento entre a imprensa e a sociedade, ou pelo menos a maior parte dela.

Os jornais apontam como motivaçao principal da popularidade da presidente uma de suas medidas mais recentes, a reduçao da conta de energia. No entanto, um olhar ainda que superficial sobre o desempenho de Dilma Rousseff nas pesquisas desde sua posse mostra que, embora haja causas pontuais influenciando a opiniao dos cidadaos em cada consulta, há uma consistente relaçao de empatia entre os brasileiros e sua presidenta e uma sólida aprovaçao de suas políticas (…..)

Os jornais cruzam as respostas da pesquisa, que traduzem a imagem do governo e da presidente, com dados econômicos e sociais. Analisam, por exemplo, os efeitos da queda do desemprego e aumento da renda no período – o nível do desemprego chegou a 5,5% da força de trabalho, o índice mais baixo da história, e a renda média subiu 4,1%, o maior crescimento desde 2004. Além disso, subiu de 45% para 48% o número de pessoas que aprovam as medidas do governo contra a inflaçao.

Interessante observar como os dados analisados pelos jornais na tentativa de explicar a aprovaçao do governo e seus reflexos na popularidade da presidente acabam expondo um cenário que contraria o retrato feito diariamente pela imprensa sobre a economia do Brasil. No entanto, os jornais certamente vao continuar apostando na deterioraçao das condiçoes gerais do país, como fazem há uma década, e procurando brechas para emplacar mensagens negativas, que posteriormente serao utilizadas na campanha eleitoral em favor de candidatos da oposiçao.

A imprensa nao deve aliar-se incondicionalmente a nenhum governo circunstancial e é seu papel manter vivo o espírito crítico da sociedade.

No caso do atual governo, há muitas pautas autenticamente críticas a serem desenvolvidas, uma vez que sobram sinais de que o crescimento da economia, a melhoria na distribuiçao de renda e demais resultados que produzem a popularidade da presidenta nao compoem um quadro de desenvolvimento sustentável. Além disso, graves problemas sociais e institucionais seguem sem soluçao.

A popularidade da presidente e a massiva aprovaçao ao seu governo têm a ver com a percepçao do presente, mas nao refletem necessariamente uma ampla compreensao sobre o futuro.

O problema é que os jornais parecem presos aos dogmas da economia de mercado e insistem em fazer a crítica justamente onde as coisas estao funcionando. Mas nao deixa de ser irônico que, quanto mais a imprensa se posiciona contra o governo, maior sua aprovaçao.

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