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Jayme Serva – 150? Nao, obrigado! – sobre o texto de ontem da Tania Savaget
Ótimo texto da Tania Savaget, ontem aqui, alerta para o fato de que o primeiro homem a viver 150 anos já está entre nós. Toda a combinaçao medicina-alimento-ginástica, turbinada pela tecnologia, já estaria esticando o tempo de vida do ser humano contemporâneo e acalentando os novos matusaléns.
Nao pude deixar de imaginar: e se for eu esse cara? E se eu viver até os 150 anos? Imediatamente me veio a imagem de um ser encarquilhado, de 1m45 (tenho 1m94 hoje), afundado numa poltrona de fibra de carbono flexível dermoadaptável. Um bando de garotinhos barulhentos montados em gravicletas (bikes antigravidade, sem rodas) chega à sala, fazendo a algazarra de sempre: “Oi, penta!”, ao que eu respondo irritado: “Mais respeito!”. A enfermeira me lembra, entao, pela centésima vez, que “penta” se refere ao fato de eu ser pentavô da molecada. Os neurônios artificiais implantados em 2098 nao conseguem mais fazer a memória funcionar bem. “Também, tetra, você nunca mais implantou neurônios novos. Os de hoje em dia duram muito mais”, assevera minha tetraneta, que é webdoctor.
O sono é uma constante. A enfermeira o tempo todo tem de me chamar para as tarefas mais básicas: comer, beber água, atender ao telefone interno (sim, em 2054 eu fiz a besteira de implantar sob a pele um nanoaparelho da Microtel, achando que seria mais cômodo — era um porre, o telemarketing havia se expandido enormemente nos últimos 60 anos). É uma boa enfermeira, fabricada na China pela Sinrobotics. No estado em que estao meus neurônios, eu até esqueço que ela nao é gente — cheguei a pedi-la em casamento.
Às tantas, abro os olhos e vejo um casal com dois filhos pequenos, que eu não conhecia, sentados à mesa, bem na minha frente, tomando o café da manha, alegres. A que parece ser a mae vira-se para mim e diz: “Hmmm! Mars Garina, feita com o puro leite de Marte! Faz o café da manhã sempre melhor!” A enfermeira me aplaca o susto lembrando que aquilo é somente o Live-break, um anúncio em imagens virtuais em 3D. “Mas quem disse que eu quero ver isso?” A enfermeira, paciente, explica: “O senhor nao lembra? Estava no pacote da Microtel”.
Definitivamente, espero nao ser esse homem que a Tania descreve. 80 anos já estarao de muito bom tamanho para mim :)
Julio Winck
Ótimo texto, Jayme. Também digo, sinceramente: “esse cara não sou eu” :)
Jayme
É, Julio, até tempo, quando é demais, atrapalha :)
Abraço
Marcio Nogueira
Muito bom, Jayme.
Jayme
Valeu, Marcio! Saudades!
nelson porto
volta, jayme
Jayme
Ahahah, uma hora dessas eu volto, Nelson! Abração