Jornais em zona de turbulência, os pilotos estao tontos | Alberto Dines no Observatorio

Texto original aqui

No exato momento em que o jornalismo em geral, e o impresso em particular, sao desafiados, cobrados, pressionados, desacreditados e colocados sob suspeita, a Associaçao Nacional de Jornais (ANJ) entra em cena com novo e portentoso disparate que só reforça as cobranças, questionamentos e dúvidas.

Na 5a feira, 21, a Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e Valor chegaram às maos de seus assinantes em Sao Paulo com capas falsas – ditas “promocionais” ou mascaradas de “informes publicitários” – para vender a ideia de que se deu no jornal é verdade.

Jogada infantil para agarrar o público jovem, o anúncio tenta reproduzir uma página de tuítes e posts da rede social. O principal deles, postado por Maria Reininger (depois do 7 a 1 é chique ter nome alemao), informa que se algo está na capa do jornal de hoje “eu acredito”.

Na página interna diz-se que “quem abre uma notícia, abre um jornal (deveria ser o contrário – tudo bem, bacana ser obtuso). Seguem-se algumas linhas de sociologia de boteco informando que o que ontem foi viralizado, o que está nas page views, nos hashtags, nos tuites e retuítes só existe quando sair no jornal. Conclusao acaciana: “Jornal é o que leva a verdade até você, é o que garante que tudo aconteceu”.

1a pergunta aos senhores acionistas de empresas jornalísticas: se o jovem é avesso a jornal como se apregoa, qual a utilidade de dirigir uma mensagem escrita a quem nao lê? 2a pergunta: se as capas daquela edição foram falsificadas, como associar o meio jornal ao conceito de verdade?

3a pergunta: No início da temporada eleitoral, quando os jornaloes deveriam tentar a individuaçao para desfazer a imagem de pool ou confraria, a inconveniência da mensagem coletiva, em uníssono, nao ocorreu a alguém? Uma autopromoçao com forte teor corporativo e veiculada simultaneamente pelas maiores empresas jornalísticas do país (Valor é uma parceria da Folha com o Globo) nao confirma – ao invés de desfazer – a falta de pluralismo e diversidade em nossos meios de comunicaçao?

Apertem o cinto, senhores: vamos entrar em área de turbulência e os pilotos estao tontos.

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