Comida é afeto, cultura e memoria – Sua majestade, o Polvilho – Tania Savaget

A gastronomia fala muito sobre a cultura de uma sociedade. No caso brasileiro, muito antes de chefs consagrados entrarem numa onda nacionalista e tradicional, que recupera receitas de avós e resgata alguns ingredientes da nossa história para transformar em opçoes chiques – alguns pratos já mostravam muito dos nossos hábitos, costumes e influências. Os primeiros habitantes da Terra Brasilis influenciaram nosso gosto por peixes, frutas e a mandioca. Os negros, que vieram escravos dos Portugueses, trouxeram as pimentas, o cuscuz, o feijao. Somados aos europeus e suas influências, o prato nacional é, como o país, uma mistura de sabores.

Na década de 30, Getúlio Vargas deu uma esquecida nos nossos índios e deu luz aos negros e suas influências para tentar apagar um passado de escravidao tardia – fomos os últimos a acabara com a escravidao – e ganhar o apoio popular. Com isto, transformou a feijoada em prato oficial. Dizem os cisentistas sociais, que o prato representa a mistura de branco e negro no feijao com arroz, o verde das matas com a couve e o ouro das Minas Gerais com a laranja. A farinha pra fazer a farofa, neste caso, nao é a de mandioca. Com isso, a culinária indígena ficou um pouco de fora do imaginário nacional.

Mas, nosso querido polvilho, presente no pao de queijo e no sequilho mineiros, no biscoito mais famoso das praias cariocas, na tapioca baiana e no cuscuz nordestino, está aí para provar que está mais vivo que nunca. Marcas de alimentos, como o Biscoito Globo e a Tapioca Prata, assim como de cosmético, como o Polvilho Antisséptico Granado, têm como base essa goma desidratada, que vira um pozinho branco, base de biscoitos, pães e muito mais. Restaurantes do Rio e de Sao Paulo vêm resgatando este ingrediente e valorizando a inspiraçao indígena. Uma iniciativa bacana é o Instituto Maniva, que acredita que comida é afeto, cultura e memória. Eu concordo!

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