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Mídia tenta recuperar o comando do jogo | ensaia faturar em cima da derrota
Por Luciano Martins Costa – publicado ontem no Observatorio da Imprensa sob o titulo Explicando o inexplicavel
VERGONHA, VEXAME, HUMILHAÇAO – Em letras de 5 cms de altura, a 1a página do Globo escancara, na ediçao desta 4a, a frustraçao que representa a goleada sofrida pela seleçao brasileira no Mineirao. O Estado de S Paulo resume: HUMILHAÇaO EM CASA. E a Folha busca uma abordagem mais fria: SELEÇAO SOFRE A PIOR DERROTA DA HISTÓRIA. Todas as manchetes, em letras maiúsculas.
Os jornais tentam explicar o que nao pode ser entendido, justamente por sua extrema simplicidade: a equipe brasileira demonstrou nao ter maturidade para enfrentar uma circunstância adversa e nao produziu um líder capaz de reorganizar as peças quando o conjunto nao estava bem.
Veladamente, os analistas ensaiam algumas críticas ao técnico Luiz Felipe Scolari, depois de passarem o mês inteiro louvando sua suposta sagacidade, sua alardeada capacidade de aliar a malandragem do futebol com a medida eficaz de virilidade. Agora, todos concordam em que ele errou na estratégia e na tática e ficou paralisado quando seus pupilos perderam o controle.
Alguns textos cobram uma mudança radical na organizaçao do futebol brasileiro, defendendo a retomada da Comissao Parlamentar de Inquérito para investigar irregularidades da Confederaçao Brasileira de Futebol. Admite-se que a vergonhosa atuaçao diante dos alemaes serve como divisor de águas entre o passado de conquistas e um presente de futebol medíocre, improvisado, extremamente dependente da criatividade de apenas um jogador. Sem Neymar Jr, eliminado da Copa por causa da contusao grave sofrida na partida contra a Colômbia, a seleçao brasileira se revelou um time previsível.
Mas seria diferente com ele em campo?
Os especialistas se dividem, mas a maioria acha que Neymar e o capitao Thiago Silva, ausente por ter sido punido com 2 cartoes amarelos, teriam evitado a derrocada emocional após o primeiro gol dos adversários. Afinal, um resultado como esse, 7 a 1, entre equipes de primeira linha do futebol mundial, nao deixa margem para respostas simples: embora seja possível alinhar uma série de causas para o desastre, o que a imprensa tenta fazer é explicar o inexplicável.
Paralelamente, fora das quatro linhas, a imprensa volta ao jogo sujo: o Estado de S Paulo usa o editorial para transformar a derrota da seleçao em revés político da presidenta da República.
Aqui e ali, também os outros jornais fazem especulaçoes sobre possíveis efeitos da humilhante derrota no futebol sobre a política e a economia; uma leitura cuidadosa dos textos escolhidos pelos editores mostra que a imprensa espera uma quebra na confiança demonstrada pelos brasileiros em si mesmos – fenômeno associado por analistas ao bom andamento da Copa do Mundo.
Um colunista da Folha produz uma frase que merece ser dissecada: “O mundo nao acabou, mas o bom humor das últimas semanas vai se evanescer aos poucos. O país voltará a se enxergar como de fato é”.
Seria o caso de se perguntar ao profeta diletante: e o que é, de fato, o Brasil, cara-pálida? A se depreender das escolhas editoriais da Folha, o Brasil é um país pobre, depressivo, incapaz de resolver seus desafios históricos. Será isso que quer dizer o articulista? Ou, ao contrário, pode-se afirmar que o brasileiro médio já superou, a esta altura, a derrota humilhante e está enchendo as redes sociais de anedotas sobre si mesmo?
Na sombra da frustraçao geral, a imprensa especula sobre uma possível retomada das manifestaçoes violentas protagonizadas por aqueles que se opunham à realizaçao da Copa no Brasil. Mas qual seria a justificativa?
A derrota da seleçao brasileira nao desmancha a percepçao generalizada de que o evento tem sido 1 sucesso. A poucos dias de seu encerramento, acumula uma série de recordes e emoçoes em alta intensidade – incluindo-se entre elas até mesmo o vexame da seleçao nacional diante da Alemanha.
Como se afirmou aqui antes da partida contra a Colômbia, o Brasil de verdade já experimentava o sabor da vitória ao produzir uma Copa em clima de alegre receptividade. A matilha dos vira-latas e os profetas do apocalipse já saíram de suas tocas para tentar derrubar a autoestima dos brasileiros.
(Mas) sucumbir ao pessimismo seria a pior das derrotas.
Carlos
É melhor sofrer a desilusão ou viver numa ilusão?
Que o Scolari (campeão mundial, brasileiro, paulista, etc etc) vai ser lembrado por não ter respeitado o adversário e jogado na retranca (que é como todos os outros times que deram trabalho para a Alemanha jogaram), VAI!
Mas para o Brasil é bom. Acorda país!
Viver de circo até quando???
Eu tenho minha teoria… o GLOBO tem a dele, mas é lógico que noticiário vive de atividades extraordinárias: super heróis ou vilões!
Erick
Gente,
É só futebol. Não dá para extrapolar o limite do esporte. Se fosse assim, a Argentina seria uma potência mundial fora das quatro linhas (o que, atualmente, está muito longe de ser verdade). Todos sabem que o país tem problemas sérios, mas também várias virtudes. Não podemos ir do ufanismo exagerado para a depressão em um piscar de olhos. Acho que o primeiro passo para as mudanças, é ter uma visão mais equilibrada dos nossos pontos fortes e fracos.