Mudanças na prog da Cultura, crise da TV aberta pode abrir mercado p novos serviços

por Nelson de Sa hoje na Folha integra do texto

Antônio Fagundes tinha 42 anos, hoje tem 64. Marisa Orth e Denise Fraga, começando na carreira, apareciam em papéis pequenos. É o ‘Mundo da Lua’, que volta à grade da TV Cultura, apresentado eufemisticamente como um “clássico”. Enquanto isso, a Cultura corta o programa de documentários ‘É Tudo Verdade Internacional’ e fecha seu departamento infantil, responsável por boa parte dos tais “clássicos” da emissora nestas duas décadas. Além das reprises, preenche o vazio na grade com mais programas de entrevista, de baixo custo.

Mas a Cultura nao está sozinha na degradaçao que agora avança mais rapidamente pela TV aberta. No principal mercado, Sao Paulo, concessoes como RedeTV! desfiguram de tal maneira as suas grades e equipes que mal conseguem justificar a manutençao da marca. Foi também o caso da MTV. Com programaçao e receita em decadência crônica, o canal voltou para a Viacom, que o transferiu para a TV paga, como ocorre com a MTV no resto do mundo, e lançou programas novos. Mas o sinal aberto nao achou comprador e continua lá –com programaçao ainda pior.

Outras concessoes de televisao em Sao Paulo, em VHF e UHF, hoje transformadas em plataformas para organizaçoes de “teologia da prosperidade”, poderiam entrar na lista. A deterioraçao é tao disseminada que já começa o lobby, por enquanto em estágio preparatório, para o momento inevitável de redistribuiçao dos sinais.

Há duas semanas, na Holanda, durante a IBC (International Broadcasting Convention), reuniao anual do setor, o diretor de engenharia da Globo, Fernando Bittencourt, declarou que no futuro nao haverá lugar na TV aberta para emissoras de nicho – de audiência restrita, como as citadas.

Nao é novidade, propriamente. A perspectiva de ampla “liberaçao do espectro” é assunto corrente nas telecomunicaçoes mundo afora, diante do impacto crescente da internet e dos aparelhos móveis. Mas, no momento, as gigantes da telefonia estao na frente na corrida pelos sinais, e as grandes redes de radiodifusão tentam reagir.

A proposta é que, em algum momento, as emissoras menores mudem de plataforma, liberando o espectro para as maiores, que poderiam entao oferecer outros serviços, inclusive de dados. Para a Globo ou a britânica BBC, antes de mais nada, é questao de sobrevivência.

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