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Muhammad Ali – uma marca além do esporte | texto da Tânia Savaget
Em sala de aula costumo sempre refletir sobre o que pode ter marca num tempo-espaço em que quase tudo tem. Já dizia o poeta Carlos Drummond que estamos cercados de etiquetas por todos os lados. Tudo tem um slogan, uma intençao de venda. E além de produtos, serviços, lugares, pessoas também podem ter marca. E algumas delas trabalham bem a gestao da sua marca pessoal criando uma quase infinita linha de produtos. Pessoas costumam gostar de marcas pessoas e de ter algum produto que simbolize uma personalidade.
Mas, com a recente morte de Muhammad Ali e os muitos depoimentos que li ao longo das últimas semanas, fiquei pensando na capacidade de algumas pessoas de deixar marcas. Pessoas que extrapolaram seu “core business” e foram além dos seus papéis de atletas, artistas, autores. Uma das frases que mais gostei foi de Barack Obama que disse que Muhammad Ali tinha uma imensa sensibilidade para saber o que é certo e o que é errado. E se posicionava em relaçao a questoes importantes para a sociedade em geral e nao para apenas os fãs do boxe. O caso de racismo na sua própria cidade, quando se negaram a servir um cachorro-quente numa lanchonete, a decisao de nao ir para a Guerra do Vietnã, a luta pelos direitos de pobres e negros mostraram uma posiçao à frente do seu tempo.
De alguma forma esse boxeador ajudou a construir a sociedade que vivemos hoje. Ainda com muitos problemas que ele apontava, mas caminhando numa direçao mais positiva. Acredito que é isso que as marcas vao ser mais cobradas a fazer: se posicionar para além do que produzem, desenvolvem, vendem. E para isso, como dizia Guimaraes Rosa, é preciso coragem, que é o que a vida espera da gente. Eu torço por marcas mais corajosas, que têm opiniao sobre temas relevantes, encontram seus certos e errados e se posicionam. Essas, imagino, sao as que a gente vai querer se relacionar.
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