Nada mais contundente que a realidade para desmascarar operaçoes de imprensa

Do Argentinaetc

Os programas de arquivo, uma mania argentina, têm servido nos últimos tempos como uma espécie de manual da verdade: análises políticas e econômicas se tornam previsoes furadas, quando confrontadas, tempos depois, com fatos nus e crus. O caso da batalha argentina com os chamados fundos abutres é exemplar para demonstrar isso.

O caso

O processo de reestruturaçao da dívida argentina, aceito por 92% dos credores, sofreu um duro golpe pela decisão do juiz de Nova Iorque Thomas Griesa de bloquear o pagamento depositado pela Argentina aos credores reestruturados, se o país nao atender aos outros 8%, formados por fundos abutres, que pedem o pagamento de 100% da dívida. Por que a Argentina decidiu nao acatar a ordem de Griesa? Alejandro Rebossio, do jornal El País, explica: “se pagar o dinheiro reclamado neste processo, os credores da dívida reestruturada, que atualmente equivale a 30 bilhoes de euros (R$ 90 bilhoes), podem pedir o mesmo tratamento, exigir o pagamento de 90 bilhoes de euros (R$ 270 bilhoes) e condenar a Argentina à suspensão do pagamento de todas as suas obrigaçoes. O argumento do Executivo baseia-se na cláusula da dívida reestruturada que determina que aqueles que a aceitaram podem exigir melhorias se os que a recusaram receberem pagamentos maiores. Esta cláusula expira no final de 2014 e, por isso, o Governo está pedindo para congelar a decisao até 2015”

A análise

A decisao argentina de nao pagar gerou uma série de teorias conspirativas e apocalípticas, que hoje, à luz dos fatos, nao passam apenas de furadas previsoes. No dia 29 de julho, dias antes do vencimento do prazo para acatar a ordem judicial norte-americana, a grande mídia argentina repercutiu com destaque um editorial do jornal O Globo que afirmava: Cristina adota uma tática suicida frente aos holdouts (credores que nao aceitaram a reestruturaçao).

A realidade

Não houve suicídio, pelo contrário, a firme e corajosa decisão do governo argentino de enfrentar a Justiça dos EUA evitou o risco de colapso, de todo o processo de reestruturaçao de sua divida, nao gerou maiores complicaçoes à economia local e, de lambuja, serviu para chamar a atençao da Organizaçao das Naçoes Unidas (ONU), que acaba de aprovar um marco legal, impulsionado pela Argentina e o G-77 + China, para regular as reestruturaçoes de dívida, para evitar problemas como o causado pela ordem de Griesa. Ao contrário das previsoes da mídia, a realidade dos fatos vem demonstrando que, longe de ser uma tática suicida, a estratégia legítima do governo argentino serviu para evitar a falência do país e ainda dar uma liçao ao mundo capitalista para que medidas urgentes sejam tomadas.

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