“Nao sei quanto a você, amigo, mas esse futebol nao me representa”

O Antonio Prata, na Folha | imagem na internet

Abre – “Tem muita gente afirmando que o fiasco de 2014 foi pior do que o de 1950. Futebolisticamente, nao dá pra negar: em 50, ficamos em 2º, por um único gol. Aqui, acabamos em 4º, tomando 7 dos alemaes, na semi, mais 3 dos holandeses, na disputa pelo 3º lugar. A reaçao do país lá e cá, contudo, sugere que a derrota de 2014 nao deixará, fora dos gramados, nem sombra da cicatriz uruguaia”.

Narra – “Diz a lenda que em 50, depois do jogo, havia banquetes abandonados pelas ruas, sendo devorados por pombas e vira-latas. O povo chorava em casa, como se o gol de Ghiggia selasse nao apenas o campeonato mas nosso destino de fracassados, fadados ao eterno subdesenvolvimento”.

Constata = “Bem diferente do cenário que encontrei na Savassi, bairro boêmio de BH, voltando do Mineirao, na 3a. Mesmo depois da derrota, as ruas continuavam cheias. Ambulantes seguiam vendendo cerveja. Embaixo de uma marquise, um casal se beijava sôfrega e desajeitadamente, como costumam se beijar os casais, na primeira vez. Apesar da tristeza e da perplexidade, a vida seguia seu rumo”.

Seguindo – “Por muito tempo, fomos um arremedo de país com uma seleçao deslumbrante. Eu nao cairia no exagero de dizer que a equaçao se inverteu: estamos longe de ser um país deslumbrante – socialmente, economicamente, eticamente –, mas o que percebi em meio à muvuca e me salvou da depressao foi que, hoje, o Brasil é melhor do que a sua seleçao” (…..)

Verifica – “O fracasso do time serve para escancarar o atraso, a incompetência, a ganância, a burrice e a má-fé que administram o nosso futebol, mas nao deve ser estendido ao país como um todo. Claro que os defeitos da cartolagem brotam de certas vicissitudes nacionais, mas a gente nao se resume a elas. Temos inúmeros exemplos de brasileiros que se unem com um objetivo e chegam, com trabalho e competência, a resultados extraordinários” (…..)

Conclui – “O jogo ainda nao está ganho. Longe disso. É preciso mexer bastante no meio de campo, mas nao somos uns fracassados, fadados ao eterno subdesenvolvimento. Nao sei quanto a você, amigo, mas esse futebol nao me representa”.

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