Netflix vê ‘excesso de cautela’ na Globo nao dividir, Globo acha q pode explorar proprio conteudo

Por Mauricio Stycer publicado ontem no fim da tarde no UOL, integra

Reponsável pelos investimentos do Netflix em conteúdo próprio, como as séries ‘House of Cards’ e ‘Orange is the New Black’, e também pela decisao de colocar todos os episódios à disposiçao do público de uma só vez, o executivo americano Ted Sarandos é hoje uma figura poderosa na indústria do entretenimento americano.

Em visita ao Rio, onde anunciou nesta 4a feira o vencedor do Prêmio Netflix (destinado a dar visibilidade a um filme brasileiro pouco conhecido), Sarandos falou ao UOL por cerca de 20 minutos. Um dos temas da entrevista foi a ausência de programas da Rede Globo no catálogo brasileiro do serviço, que tem mais de 37 milhoes de assinantes em 40 países.

“É uma situação única no mundo. É a única grande rede de televisao que nao negocia com a gente”, disse Sarandos. “Acho que eles têm medo de que vamos canibalizar o negócio deles, mas somos complementares para o sistema”, diz.

Segundo o executivo, a Netflix compra direitos de programas de grandes redes, nos EUA e no México, por exemplo, e os oferece em seu catálogo nos próprios países. “A Globo vende novelas para a gente, mas para exibiçao em outros mercados da América Latina.”

Sarandos fala, com orgulho, dos elogios que recebeu recentemente do diretor da premiada série ‘Breaking Bad’, Vince Gilligan, pelo impulso que a série ganhou ao ser exibida pelo serviço de TV por internet quando os seus índices de audiência no canal pago AMC não eram os melhores – “A TV americana já entendeu que a gente pode ajudar a ampliar o mercado”, diz Sarandos – “A Globo está tendo um excesso de cautela”, lamenta.

Para provar a sua tese, o executivo oferece um dado: nas duas semanas posteriores à exibiçao do último episódio da quinta temporada de ‘Breaking Bad’, o piloto da primeira temporada foi o episódio mais visto pelos assinantes do Netflix. Ou seja, enquanto os olhos dos fãs estavam voltados para o canal AMC, uma nova leva de espectadores descobria a série pelo serviço de streaming.

Sobre a produçao de conteúdo próprio no Brasil, Sarandos diz que pretende continuar a fazer algumas experiências, mas nao revela detalhes. A empresa apostou, até o momento, em alguns especiais de humor, de Rafinha Bastos e Danilo Gentili, entre outros, e numa série em 3 episódios de Felipe Neto, intitulada ‘A Toca’.

Este é o primeiro passo, diz, para investimentos de maior peso, como a eventual produçao de um seriado. Foi assim, também, nos EUA. A empresa já existia há quase 15 anos quando decidiu apostar US$ 100 milhoes em duas temporadas completas de ‘House of Cards’. A base de assinantes no Brasil, cujo número a empresa nao divulga, nao justifica um investimento deste peso.

Procurada pelo UOL, a Globo deixou claro que nao tem a intençao de alterar a situaçao apontada pelo Netflix – “Acreditamos que a exploraçao do nosso conteúdo, na web ou na TV paga, deve ser feita por nós, através de um sistema de distribuiçao próprio”, diz a mensagem enviada pelo setor de comunicaçao da empresa. E prossegue: “Hoje temos a experiência do Globo TV+, que permite que o público assista a todos os conteúdos da programaçao da Globo com 3 horas de atraso. Ou seja, estamos perseguindo soluçoes para disponibilizar nossa programaçao para quem nao pode vê-la no momento em que foi exibida na TV aberta. Temos aprofundado as discussoes sobre isso, mas acreditamos na nossa capacidade de entregar nossos próprios conteúdos em nosso próprio sistema de distribuiçao”

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