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‘Nós da imprensa somos bons em monitorar diversidade – no quintal dos outros’
Texto de Silvia Salek, diretora de redaçao da BBC Brasil, publicado originalmente no site da BBC
Há muitos e muitos anos, em uma redaçao brasileira, recebi uma ‘chamada’ de um editor. Era para eu selecionar menos negros como personagens. Na época, eu saía diariamente com a missao de encontrar pessoas que pudessem ilustrar, com foto e relato, reportagens das mais variadas. Entre jornalistas, era comum ouvir que, em páginas de certas publicaçoes, negros eram praticamente banidos. E, como parte da racionalizaçao deste verdadeiro absurdo, ouvi algumas vezes o exemplo de uma publicaçao que, com um negro na capa, praticamente encalhou. Era uma conversa que começava em tom alarmado de denúncia e terminava em tom de resignaçao. O culpado era o mercado. Afinal, a imprensa estava apenas respondendo à demanda do público.
Será? Nós, profissionais da imprensa, devemos fazer algo para mudar isso? Poderia dizer que, sim, ‘porque estamos em 2016’, parafraseando o uber-cool primeiro-ministro canadense que deu essa resposta ao ser questionado, no ano passado, sobre o porquê de tantas mulheres e minorias em seu gabinete. Mas tenho a impressao de que essas frases de efeito só tocam coraçoes convertidos.
Enviei para minha equipe uma mensagem de WhatsApp pedindo que a gente usasse a polêmica em torno do gabinete de Michel Temer para fazer uma autocrítica, uma reflexao sobre nosso papel como parte do problema. A falta de representatividade na nossa equipe merece essa autocrítica. Nossa diversidade étnica é baixíssima e sao poucos os profissionais fora do eixo Rio-Sao Paulo. Mas, na mensagem, me referia especificamente ao conteúdo que produzimos.
É que nós normalmente enxergamos a pluralidade em um contexto ideológico. Temos como missao buscar o equilíbrio. E temos feito isso com relativo sucesso. No domingo, na nossa página do Facebook, por exemplo, disse o leitor Joao Rodrigues: ‘Eu vendo alguns chamando a BBC de petista e outros, de golpista, e chego à conclusao de que a BBC está sendo imparcial. Parabéns BBC por mostrar os dois lados da moeda”. Mas nossa missao nao se restringe a dar voz a Kim Kataguiri, do MBL, e a Guilherme Boulos, do MTST.
Somos bons em monitorar a diversidade. Mas, de preferência, no quintal do outros. É a Câmara que só tem 10% de mulheres, sao as empresas com poucas em cargos executivos. Chegamos a fazer, em 2014, um excelente texto mostrando como nao havia meninas negras retratadas nas revistas para a adolescentes no Brasil. A autora, uma entao estudante de Jornalismo negra, dizia: ‘Estou no Brasil, mas me sinto na Rússia’. Mais uma vez, botamos o dedo na ferida – dos outros.” Continue lendo aqui.
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