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Novos tempos, novas pessoas, novos lugares – texto do Jayme Serva
Um amigo músico me contava como decidiu deixar o mercado de trilhas e jingles – “Um dia, eu mandei um orçamento pra um cliente que incluía um jingle, que ele ia usar só no rádio, uma trilha pra um comercial de varejo e outra que ele queria ter pra uso interno. Ele me ligou no dia seguinte e disse – ‘olha, eu tenho um orçamento aqui, de um garoto que toca que nem o capeta, me mostrou um portfolio bárbaro e faz tudo por 10% do que você cobra’…”. Meu amigo musico resumiu – “Eu entendi”. Na época dessa negociaçao, o meu amigo e sua empresa estavam no auge. No mesmo dia ele começou a planejar a mudança. Mudou para melhor, hoje navega feliz no mar agitado das redes sociais ;)
Nao havia mágoa no testemunho. Havia apenas uma constataçao – a tecnologia deu acesso a milhoes de garotos talentosos, das diversas áreas da comunicaçao, a recursos para produzir o que antes era dado só a iniciados – e iniciados com grana.
Alguém há de dizer – “É, mas esses caras novos nao chegam aos pés do Zezinho, do Caco, do Alan…”. Com todo o respeito, chegam, sim. É aí que está a questao – nao só chegam como já têm atrás deles uma nova leva, com novos garotos, mordendo seus calcanhares. Mais rápidos, mais dispostos, mais jovens. Há negócios, na base da nossa comunicaçao, que estao fadados ao mesmo destino dos camiseiros e dos alfaiates – apesar do imenso talento, da penosa formaçao e do valoroso trabalho, há o que os substitua, com vantagens, consideradas as necessidades (e estas se chamam, sempre, melhor preço). Dos camiseiros e alfaiates, sobram apenas dois, três.
A questao é: isso é a morte? Depende. Quem insistiu em ser o melhor operador de moviola do Brasil, dançou. Quem entendeu que seu negócio era montar filmes, apenas mudou de ferramenta. Quem entendeu que pode ser maestro em outros instrumentos, nao tao melódicos, mas tao exigentes quanto, se redescobriu. Mais forte, mais jovem – e como maestro. Quem nao se magoa com o correr da história dá o primeiro passo para surfar nela.
marcelo antelo
Faz uns 10, 12 anos atrás isso aconteceu aqui mesmo na internet com o desenho web, foi a era dos “sobrinhos”, lembra?
Daí que você tinha sua empresa legalizada, contratando gente especializada (imagina encontrar gente especializada há 10 anos atrás!) e dava um orçamento de um website para um cliente e ele voltava:
– Mas o sobrinho da prima da minha mulher trabalha no computador no quarto da casa da mãe dele e me mostrou um portifólio poderoso e cobrando menos de 20% do teu preço!
Agora isso acontece com os músicos trilheiros, mas já rolou com os radialistas e as rádios e TVs web, com os jornalistas e os blogs e revistas virtuais e com os sem registro profissional e em breve vai rolar com os publicitários também (opa, já tá acontecendo!)!
Jayme
É mesmo, Marcelo! Os famigerados sobrinhos… Mas o mais interessante é que entre os sobrinhos de hoje é que estão os craques de amanhã.