Nunca mais! Vc sabe como era viver sob ditadura? Jayme Serva sobre Brilhante Ustra

Acabo de ouvir no rádio do carro a notícia sobre o depoimento do coronel Ustra, torturador notório e chefe de torturadores notórios, na Comissao da Verdade. Diz o repórter que Ustra se alterou e alegou ter defendido o país de uma “ditadura comunista”.

Uma das consequências da democracia é que nos acostumamos com ela. Assim, é difícil avaliar como é viver sob uma ditadura. Muitas pessoas que viveram apenas na democracia chegam a achar que gente como Ustra realmente teve um papel numa guerra entre iguais, em que a “paz” propiciada pela ditadura era combatida por gente “anti-paz” da oposiçao. Desde logo, se paz havia, era a paz dos cemitérios. A “defesa” de que o coronel fala era composta de doses generosas de censura, tortura, assassinatos, humilhaçoes, tudo baseado na degradaçao do ser humano que nao fosse fiel à cartilha dos tiranetes.

É para esses moços (ah se soubessem o que eu sei) que eu quero lembrar algo que, embora pareça óbvio, nao pode ser esquecido: a turma de Ustra, os golpistas de 1964 usurparam um governo legítimo, derrubando o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, que era (e é) o Presidente da República. A resistência armada, portanto, por mais equivocada que tenha sido (e foi), nao era uma guerra entre iguais. Era uma luta de meia dúzia de idealistas contra usurpadores organizados e muito bem armados.

O tempo tem se incumbido de mostrar que a democracia brasileira é sólida e viável. “Impichamos” um presidente da República, elegemos um cassado pelo AI-5 e depois um operário para governar este país. Depois, o país escolheu uma mulher, que é uma sobrevivente do jeito Ustra de fazer democracia. E o país vai muito bem, obrigado, resolvendo pouco a pouco seus problemas, sem precisar de baionetas e mandoes. Sobre gente como Brilhante Ustra, só o que se pode dizer é: nunca mais!

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