O espetáculo do mundo faz mais sentido nas telas minúsculas de 1 telefone celular?

Luciano Martins Costa no Observatorio integra aqui

Sao raros os casos em que a imprensa consegue surpreender o leitor com um olhar mais instigante sobre qualquer assunto. Mesmo quando trata de manifestaçoes artísticas, a impressao que passa para o público é de que nao há novidades no mundo e que tudo se transformou em mercadoria barata, em commodity.

Nao há mais vanguarda em nenhum campo da cultura, ou a imprensa se tornou incapaz de reconhecer as rupturas? O mais provável é que a mídia tradicional esteja presa a uma visao de mundo convencional e conservadora, pelo fato de que, se reconhecer um novo estado do mundo, teria que colocar em xeque seu próprio papel social.

Diante desse novo estado do mundo, no qual se questiona a hegemonia dos países desenvolvidos, ou quando a conveniência do crescimento econômico impoe uma reorganizaçao das forças produtivas nacionais, ou quando a impunidade exige uma revisao na legislaçao penal que privilegia quem pode pagar advogados, qual seria o papel remanescente da mídia?

Objetivamente, a imprensa deveria reconhecer a necessidade de mudanças profundas na organizaçao da sociedade. Sabe-se que a imprensa fundamenta seu valor na suposiçao da capacidade de produzir alguma objetividade na compreensao do mundo.

No entanto, a prática indica que essa objetividade é apenas um fetiche, porque há temas nos quais a mídia nao pode se aprofundar, sob pena de produzir interpretaçoes contrárias ao seu próprio interesse como instituiçao. Incapaz de se desprender do senso comum, o sistema tradicional de mediaçao se descola da realidade mais ampla. O espetáculo do mundo, com seus encantamentos e horrores, faz mais sentido nas telas minúsculas de um telefone celular do que nas páginas de um jornal.

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