O que o mau hálito e os erros de português têm em comum? | texto do Jayme Serva

Há coisas que a gente fica totalmente constrangido de dizer a um amigo. O maior exemplo é o do mau hálito. Que grau de intimidade você deve ter com alguém para lhe dizer que ele tem mau hálito? O mesmo acontece com erros de português. A poucos amigos a gente adverte sobre erros de português recorrentes.

Por isso, uso este espaço coletivo para fazer o bem sem olhar a quem (ou a quens). O mau hálito lexical a que me refiro é o uso equivocado da palavra “assertivo”. Como epidemia de piolhos, isso começou nos anos 90. Alguém fez o papel do paciente zero e, ao ler em algum canto que determinado texto ou determinado autor era “assertivo”, associou essa palavra a “acerto” e começou a chamar de “assertivo” a tudo aquilo que julgava certeiro.

Ocorre que, enquanto “acerto” e “acertar” se referem ao que é certo, “asserçao” e “assertar” – verbo de uso raro no português do Brasil – sao sinônimos, respectivamente, de “afirmaçao” e “afirmar”. Um sujeito “assertivo” ou uma redaçao “assertiva” têm a qualidade de afirmar, demonstrando bom grau de certeza, as teses que defendem. Podem, no entanto, estar completamente errados.

Quando alguém afirma: “Eu garanto: o mundo só tem 7 mil anos“, ele está sendo assertivo, mas está errando na mosca. Alguém que responde: “Mas, olha, nao me leve a mal, quem sou eu para contradizê-lo, mas a ciência mostra que o mundo tem perto de 4,5 bilhoes de anos” nao está sendo nada assertivo, mas está acertando no que diz, ao menos segundo a ciência aceita pelo sentido comum.

Assim, companheiros de jornada, “assertivo” nao tem nada a ver com “acertar”, e /”acertivo”/ nao existe em nossa língua. E desculpe o mau hálito.

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