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O que será da boa e velha caligrafia? | texto de Berenice Ring
Os bebês de hoje sao muito espertos. Com menos de 1 ano já sabem arrastar fotos com seus dedinhos no celular da mamãe. Fazem isto antes de aprender a rabiscar ou a colorir. Com tenra idade, brincam com games no iPad e smartphones. É assim que se comporta esta nova geraçao que já nasce conectada. Chega, entao, o momento da alfabetizaçao. Vamos ao ensino fundamental. E agora? Como deverá ser a alfabetizaçao destas crianças que vivem num mundo conectado desde o berço? Devemos alfabetizá-las ensinando-lhes a escrever à mao? Elas devem desenvolver e treinar uma boa caligrafia cursiva? E aprender a ler nesta caligrafia?
A Finlândia já aboliu este aprendizado de seu curriculum e ensina suas crianças diretamente a teclar. 45 estados dos Estados Unidos também já tiraram a escrita à mao de seus programas escolares. Parece que este está se transformando rapidamente no novo padrao. Hoje, diversas universidades exigem que o calouro compre um laptop para iniciar seus estudos. Em outras, onde nao há esta exigência, cada vez mais alunos vêm para a sala de aula munidos de seus equipamentos eletrônicos. A velha prancheta e o fichário caíram em desuso. A letra cursiva definitivamente está se tornando obsoleta. Mas eliminá-la do processo de alfabetizaçao seria uma decisao sábia?
Há diferentes visoes a este respeito. Psicólogos dizem que o desaparecimento da escrita representa uma ameaça para a base da educaçao. Por exemplo, escrever à mao nos ajuda a reter informaçoes e conceitos – como em matemática. Você se lembra como preparava a cola escrita à mao enquanto estudava para a prova e depois nem precisava usá-la porque lembrava tudo o que escreveu naquele pedacinho de papel dobradinho? Provou-se, também, que ensinar crianças a escrever à mao ativa partes do cérebro que serao críticas para a leitura deste ser no futuro. A caligrafia é importante para o desenvolvimento do processo cognitivo. Há quem diga que ensinar caligrafia nas escolas é como ensinar um motorista a dar partida num carro à manivela na auto-escola. Céticos dizem que a caligrafia já perdeu seu posto de principal forma de comunicaçao entre as pessoas e que devemos simplesmente seguir em frente.
Sim, é verdade que perderemos certa habilidade motora fina e memória cinética ao deixarmos de escrever à mao. Mas a história é escrita assim: inovaçoes surgem e habilidades do passado se perdem. Por exemplo: o tipo de memória que se utilizava nas culturas onde a transmissao de informações era oral foi perdido quando a escrita tomou o seu lugar. No entanto, a revoluçao na escrita nao para por aí. A próxima grande mudança já bate em nossa porta: o ditado por voz. Muita gente hoje envia e-mails através de seu smartphone usando um serviço de transcriçao de voz como a Siri, do iPhone. Isto muda a forma de composiçao do texto escrito. Sabe por quê? A linguagem que usamos para falar é diferente daquela que usamos para digitar um texto. Portanto, isto deverá, de certa maneira, alterar a linguagem dos textos.
As assinaturas, tao particulares e pessoais de cada um, estao sendo substituídas pelas senhas, pelas identidades digitais e biometrias e, em breve, leitura de íris. O que mais me incomoda em tudo isto, digo com um pouco de nostalgia, é que sentiremos falta da expressao de personalidade que representa o texto escrito à mao. Reconheço ainda, muito bem, a letra de meus irmaos e de minha melhor amiga. Sinto falta das cartas que recebia pelo correio de meus amigos que moram na Europa. Junto da missiva, vinha uma dose de carinho. Ela estava representava na letra sobre o papel que saiu das próprias maos do remetente, dobrado cuidadosamente dentro do envelope. A letra, a tinta da caneta e até o cheiro eram algo de pessoal que eu recebia diretamente destas pessoas de quem tanto gosto.
* Berenice é coordenadora do curso de Branding do PEC-FGV e autora do livro “TSUNAMI: porque as empresas que surfam esta onda gigante chegam à frente de seus concorrentes“
Marcelo Domingues
Parabéns pelo artigo.
Sou designer e percebo como está difícil encontrar alguém que saiba manusear a pena…
Que pena.
cordialmente,
Marcelo