Tweet |
Os críticos da grande midia estao precisando de 1 terapeuta esperto
Por Paulo Nogueira original no Diario do Centro do Mundo
Sao milhares. Dezenas de milhares. Milhoes. E nao param de se multiplicar. Sao os BIMs, os brasileiros indignados com a mídia. Agora mesmo: meia tonelada de cocaína é encontrada num helicóptero de um amigo de Aécio. O BIM passou o fim de semana mal. Olhou nas bancas para ver a capa da Veja. Fitness. Nem uma só mençao, na capa, ao caso, como se meia tonelada de cocaína, e no helicóptero de um senador que presidiu o Cruzeiro, fosse meia tonelada de chocolate belga no trenó do Papai Noel.
Mas meu propósito aqui é descrever um dia na vida do BIM. Ele acorda e dá uma olhada no Reinaldo Azevedo. Sente raiva com o que lê. Mais uma vez, se gabando de ter criado “petralha”, como se tivesse feito a Comédia Humana do Balzac. Depois passa para o Constantino. Mais um momento de raiva. Ele conseguiu falar do Lobao no Roda Vida e colocar uma foto no texto em que o Lobao segura o livro dele, Constantino. “Trapaceiro”, pensa.
Passa os olhos por um novo blogueiro, um cara que compilou frases de Olavo Carvalho num livro – “É o reaça-engraçado”, pensa – “Se é para publicar coisas de extrema direita, poderiam dar frases do Mein Kampf direto”,
Tempo de trabalhar. No carro, BIM poe na CBN. Ouve Merval, Sardenberg e Jabor. Xinga alto no carro, num desabafo instintivo e gutural. Merval fala sobre o lulopetismo. Sardenberg anuncia o colapso econômico. Jabor diz que se avizinha a ditadura bolivariana. BIM lamenta nao ter um Frontal à mao.
No escritório, num momento mais tranquilo, vai no site da Folha. Quer saber o que Magnoli escreveu. Defendeu a prisao de Genoino. BIM pensa em Miruna, e se pudesse daria uma bofetada em Magnoli. “Lacaio”, pensa. Depois vai para Eliane Cantanhede. Mais uma paulada nos “mensaleiros” e mais um elogio a Joaquim Barbosa. Passa os olhos por Pondé. A Revoluçao Francesa não existiu, lê nele.
BIM vai para o Estadao, já que ainda tem alguns minutos antes da labuta. E então lê Dora Kramer. Joaquim Barbosa é beatificado por ela. Passa pelos editoriais, e lê um que crucifica Dirceu pelo emprego num hotel.
Só nao repete o grito de raiva do carro porque está no escritório. O Estadao não falou nada sobre a sonegaçao de 1 bilhao da Globo, e faz uma cobertura ridícula da meia tonelada de cocaína, e mesmo assim transforma o emprego de Dirceu num caso nacional.
De volta para casa, BIM mais uma vez ouve a CBN. “Só tem reaça”, se irrita. Ouve a repetiçao do comentário de Jabor, e quase bate por perder momentaneamente a concentraçao. Chega em casa e dá uma passada pelo Jornal Nacional, para ver a que abismo Ali Kamel pôde chegar. Kamel pode muito, lembra BIM: inventou o atentado da bolinha de papel na campanha de Serra. O caso do helicóptero, como para a Veja, é tratado como se fosse uma trivialidade.
“Como seria se em vez do filho do Perrella fosse o filho do Dirceu?”, reflete. Em sua cabeça ele vê as habituais parcerias entre a Veja e o Jornal Nacional em casos do PT. A Veja dá um dossiê no sábado e, naquela noite mesmo, o Jornal Nacional repercute com estridência. “Depois os livros de Kamel recebem louvores da Veja”, pensa BIM. “Tutti amicci”.
Do Jornal Nacional BIM vai para a Globonews. Encontra lá Marco Antônio Villa falando de seu novo livro, que trata da década perdida sob o PT. “Uma besta”, pensa BIM. “Nao acerta uma, mas mesmo assim está em todas.” BIM lembra de um vídeo em que Villa dizia que Lula seria o grande perdedor na eleiçao vencida afinal por Haddad. No começo das manifestações de junho, escreveu que os protestos nao significavam “nada”.
Da Globonews, BIM passou para o Jô e suas garotas. Enio Mainardi era o entrevistado. Se perguntou quem era pior, pai ou filho, Enio ou Diogo – ”Imbecil Pai, Imbecil Jr: eles deveriam ter estes dois nomes”, pensou.
Tinha lido que a Globofilmes enfia entrevistados no programa do Jô, astros de algum novo filme. E no final a Globo cobra deles a tabela comercial cheia – “Nao é à toa que os Marinhos sao os homens mais ricos do Brasil”, ocorre a BIM.
Terminado o programa, BIM está cansado e indignado. Caramba: perdeu William Waack no Jornal da Noite. Que terá falado Waack? Só nao vai conferir no site da Globo por exaustao. Mas amanha checa.
Gasta, na sessao de análise do dia seguinte, boa parte do tempo para colocar para fora sua indignaçao. O terapeuta ouve pacientemente e, no final, diz apenas: “Mas por que você simplesmente nao para de dar audiência para aquela gente toda?”.
Leandro Dubost
Bom texto e me identifico um pouco nesse “masoquismo” todo, ao menos no que diz respeito a alguns veículos. Fico querendo saber “que besteira eles vão falar”. Evito quando posso, mas como diabos deixar de reparar uma capa da Veja no meio da rua? Como ignorar por completo a grande mídia sem se tornar um ignorante que não sabe como as coisas repercutem? No mundo de hoje, principalmente, onde tudo que a Globo fala vira notícia!