Os protestos de hoje nao tiveram a menor importância | Luciano Martins Costa

Por Luciano Martins Costa / Publicado no Observatorio sob o titulo Muito Barulho por Nada

Os jornais anunciavam, na manha desta 5a feira, a intençao de 3 centrais sindicais de paralisar a cidade de Sao Paulo com seu “dia nacional de luta”. A previsao era de que seriam bloqueadas rodovias estratégicas e, como sempre, seria ocupada a avenida Paulista, símbolo do poderio econômico da maior cidade do país.

Também estavam marcadas manifestaçoes e concentraçoes de trabalhadores em outras capitais e cidades importantes por todo o território nacional, mas as atençoes da imprensa estariam concentradas no protesto que deveria reunir as 3 maiores organizaçoes oficiais de trabalhadores na capital de Sao Paulo.

No entanto, os jornais nao gastaram letras para analisar esse movimento, como fizeram com os protestos contra o custo do transporte público. Que sentido teriam essas mobilizaçoes?

A rigor, segundo a imprensa, a única pauta comum capaz de reunir a CUT, a Força Sindical e a UGT foi a reduçao da jornada de trabalho. Também estavam previstas por alguns dos líderes palavras de ordem em favor do fim do fator previdenciário e a clássica reivindicaçao da reforma agrária, tema difuso sobre o qual nem os especialistas conseguem algum consenso.

Como uma parte representativa das lideranças também milita no Partido dos Trabalhadores ou se relaciona de alguma forma com a aliança política que governa, torna-se imperioso que as marchas sejam conduzidas em ordem absoluta, sob o comando dos potentes caminhoes de som, para evitar constrangimentos.

Afinal, os sindicatos e, por consequência, as centrais sindicais, nao sobrevivem sem uma relaçao muito íntima com o poder político, já que perderam representatividade, assim como o Congresso Nacional e os parlamentos das demais instâncias da República.

Qual seria a importância da manifestaçao conjunta das centrais sindicais, no rastro dos protestos recentes, centralizados na questao da mobilidade urbana?

Com todos os riscos implicados na análise dos fatos em cima de sua ocorrência, pode-se afirmar que a mobilizaçao dos sindicalistas tem pouca ou nenhuma relevância, se comparada aos protestos contra o alto custo do transporte público.

A razao é o fato de que as organizaçoes sindicais construídas no Brasil, como parte da luta liderada por Luís Inácio Lula da Silva nos anos 1970, já cumpriram seu ciclo histórico (…..)

Com a plena oferta de empregos e salários em alta, nao é fácil definir claramente bandeiras capazes de produzir mobilizaçoões realmente impactantes. Restaria, então, às organizações sindicais, como estratégia oportunista, apoiar a pauta levada às ruas pelo Movimento Passe Livre, exigindo melhor educaçao, mais saúde e, claro, transporte gratuito ou barato. Acontece que os vínculos das centrais sindicais com o poder político tornam essa possibilidade muito controversa.

A avalancha dos protestos que há poucas semanas expressaram os descontentamentos difusos da sociedade têm um foco muito claro: o sistema representativo criado com a Constituiçao de 1988 e a infinidade de emendas que a transformaram numa espécie de estatuto do corporativismo.

Assim como a Ordem dos Advogados do Brasil, os cartórios, o Judiciário, as profissoes regulamentadas, as representaçoes de certas categorias do funcionalismo público e os partidos políticos, as organizaçoes sindicais ficaram no lado das instituiçoes que a sociedade quer ver renovadas.

Por mais barulho que façam, os carros de som das centrais sindicais nao poderao abafar a verdadeira voz das ruas. E elas pedem o fim de todos os privilégios, 1 país mais igualitário e uma nova forma de fazer política. Nesse processo de ruptura, os sindicalistas representam a parte que a História está rejeitando. Por isso, este “dia nacional de luta” nao tem a menor importância.

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