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Tem galo novo no galinheiro. Mas e o galo velho? – Jayme Serva sobre Ibope e GfK
A notícia de que a empresa de pesquisa alemã GfK vai chegar ao Brasil para concorrer com o Ibope e aferir audiência de TV soou bem para muita gente. O monopólio do velho instituto, que virou sinônimo dicionarizado de audiência, tem incomodado muita gente, especialmente donos de emissoras do 2o lugar para trás.
Para mim, lembra um pouco a piada do galo velho e do galo novo no galinheiro, em que a astúcia do veterano sempre supera o vigor do novato. O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, declara na Folha de hoje que só há lugar para um nesse mercado, no mundo inteiro é assim. Frase de galo velho.
Bem à moda brasileira, o Ibope foi criado para medir audiência de rádio pelo dono de uma emissora de rádio. Ainda na metáfora galinácea, parecia a raposa tomando conta do galinheiro. Mas deu certo, e o instituto sobreviveu à emissora. No ano passado, completou 70 anos.
Quem ouviu o ‘Show de Rádio’, programa humorístico que ia ao ar nos anos 70 e 80 na Rádio Jovem Pan, nos intervalos dos jogos de futebol, deve lembrar do ‘Homem do Ibofe’. Era um personagem que soltava o bordao “pesquisa é bíblia!”, apenas para no minuto seguinte prever um resultado que era exatamente o inverso do que ocorria na partida.
Uma vez, dando uma palestra sobre patrimônio de marca em uma instituiçao representativa do empresariado brasileiro, fiz uma observaçao sobre um ponto crítico da marca dessa entidade, baseado em uma extensa pesquisa feita pelo Ibope. Um membro da plateia, que depois identifiquei como sendo deputado federal de um estado do norte, me disse: “Olha, se a pesquisa é do Ibope eu nao confio”. Perguntei por quê e ele disse que,numa eleiçao passada, era o favorito para ganhar a prefeitura de sua cidade, mas que a pesquisa do Ibope insistia em prever a vitória do adversário. No fim, a pesquisa acertou, o que era demonstraçao clara de que não só havia manipulaçao, como ela influenciaria todo o eleitorado. Com isso, ele dizia, certamente que o diagnóstico que eu apresentava estava furado na origem.
Como se vê, o Ibope é mais do que uma empresa, é parte do imaginário popular. A entrada de um galo novo nessa briga pode ser extremamente salutar. Mas nao será nada fácil. Neste exato momento, Montenegro já deve estar convidando o presidente do GfK para uma corrida em volta do galinheiro.
Julio Winck
O problema é que esses gringos acham que o Brasil inteiro tem a renda per capita de um bairro Morumbi da vida. Nosso mercado não é tão grande assim. Acho que o presidente do Ibope está certo quando diz que só há espaço para um instituto de pesquisa.
Jayme
É, Julio, mas considerando que a cobertura territorial da TV no Brasil só perde para o rádio (glorioso rádio!), dá pra imaginar que haja espaço para um galo novo neste galinheiro de 8 milhões de km2.
Giuseppe
Estou aplaudindo seu comentário de pé!!!!
Jayme
Obrigado, Giuseppe!
Francisco
Tem razão, Jaime. Concorrência entre apenas duas empresas, pode ser facilmente resolvida em um almoço de “alinhamento de expectativas”. Ou uma corrida em volta do galinheiro.
Jayme
É o chamado duopólio, Francisco :)
Fabio
Jayme, brilhante o texto. Como participe desse tema, asseguro que acordos/composições JAMAIS OCORRERAO. O Pres. do provedor de informações atual está correto quando diz que somente 1 sobreviverá. Em nenhum outro local do mundo existem 2 moedas distintas. Estamos muito confiantes. Aguardemos os próximos capítulos…. Abs
Jayme
Parece ser um enredo eletrizante, Fábio!
Vladimir Campos
Bom seria se quebrassem também o oligopólio das empresas de comunicação. Seria bom ver novos players nesse mercado. Mas, claro que a d. Globo jamais deixaria isso acontecer. Colocaram até um artigo na Constituição vedando tal possibilidade. Piada.
Jayme
Vladimir, não conheço esse artigo da Constituição, não. Tem certeza? De qualquer forma, o poderio da Globo e da Abril não se desfará enquanto os critérios de negócios no triângulo emissora-agência-anunciante não mudarem também.