Uma vida com qualidade nao pode ter um único modelo | Tania Savaget

Desde que voltei a estudar as ciências sociais que tenho relido trechos da obra de Marx. Impossível nao entrar em contato com as reflexoes de quem tentou entender os meandros do capitalismo e o fluxo do capital. Minha filha acabou de comprar a nova ediçao de O Capital. Confesso que só de olhar pra quantidade de páginas dá uma certa preguiça. Por isso, optei pelo ótimo O Enigma do Capital, de David Harvey e alguns artigos. Além dele, outros autores, como os brasileiros Andre Lara Resende e Luiz Belluzzo, parecem estar tentando rever seus conceitos para tentar entender o momento que estamos vivendo.

Se formos olhar para a a história, é fato que hoje muito mais gente tem acesso a uma vida com mais qualidade, no mundo todo. Mesmo com o alarmante aumento da concentraçao de renda e da pobreza, uma populaçao mundial de 7 bilhões e a chegada aos limites dos recursos naturais do planeta, quase todos os autores falam sobre um incremento no chamado “padrao de vida”. E acho que aí mora um enorme problema e algo que vem sendo debatido por filósofos, sociólogos, marqueteiros, ambientalistas, economistas, futurólogos: que qualidade é essa que tenta definir 1 padrao para todos, sem exceçao?

Uma vida com qualidade nao pode ter um único modelo. O padrao das grandes cidades brasileiras, impoe 1 modelo de qualidade que inclui apartamento, carro, viagens anuais, idas a restaurantes, escolas privadas, roupas de marca, aparelhos eletrônicos de todo tipo. Nosso Governo incentiva tudo isto com subsídios para automóveis, linha branca etc. Incentiva também um adensamento demográfico que transforma a vida, até dos que têm um padrao AA – a classe A gargalhada – em uma corrida desenfreada para acumular mais, trabalhar mais e ficar preso num trânsito infernal, com filas para quase tudo, sem falar em insegurança e violência. Nao é à toa que surgem, cada vez mais, movimentos de simplificaçao e desapego. A vida com qualidade nao pode nem deve ser padrao.

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