A Veja sem os Civita – análise do Paulo Nogueira no DCM – ele acha que pode mudar

Revista perdedora

Blue Bus deu ontem sob o titulo – Abril promove dança das cadeiras, demite, mas o jornalismo continuará o mesmo. No Diario do Centro do Mundo, Paulo Nogueira admite 1 futuro menos panfletário.

O derramamento de sangue nos altos escaloes da Abril nesta 2a feira nao surpreende. O novo presidente executivo da editora, Alexandre Caldini, foi para lá para comandar o desmantelamento da divisao de revistas. Sobrarao, com o massacre da internet, 4 ou 5 títulos, e bem diminuídos, num espaço de poucos anos. E a Abril tem ainda uma estrutura feita para produzir dezenas de revistas que quase ninguém mais quer ler e nas quais cada vez menos anunciantes estao dispostos a anunciar.

Demissoes, fechamento de revistas, cortes de custos desesperados – este é o futuro da Abril. Entao, nao há surpresa nas dispensas. O que chama a atençao é que, pelo comunicado interno da Abril, pela primeira vez a redaçao da Veja vai responder a alguém que nao seja um Civita. Ao executivo Fabio Barbosa, presidente da Abril Mídia, responderá o diretor de redaçao da Veja, Eurípides Alcântara. O fundador da Abril, Victor Civita, controlou a Veja nos primórdios, ao lado do filho Roberto. Depois, ainda vivo, o patriarca entregou tudo a Roberto. Morto Roberto, num primeiro momento a Veja esteve sob a supervisao do filho caçula de Roberto, Victor Civita Neto.

Sao previsíveis duas coisas sob Barbosa. Primeiro, um forte ajuste nas despesas da revista. Sob a proteçao de Roberto, um apaixonado sem limites pela Veja, a revista virtualmente passou ao largo das demissoes ocorridas nos demais títulos da Abril. A Veja tem 5 redatores-chefes, uma extravagância que nem a Time nos anos de ouro das revistas semanais de informaçai ousou cometer. Barbosa chega sem os compromissos de Roberto Civita – herdados pelos filhos – com as pessoas-chave da Veja. Nao deve estar nada fácil o clima na revista. Na realidade de hoje – publicidade e circulaçao em queda livre – uma redaçao do porte da Veja não se sustenta.

A 2a mudança previsível é na linha editorial da revista. Fábio Barbosa, ao longo de sua carreira, se caracterizou por posições muito mais progressistas – ou menos radicais no campo da direita — do que o que se lê na Veja. Era conhecido por suas posiçoes a favor da sustentabilidade, por exemplo – coisa que para a Veja é bobagem de esquerdistas interessados em atrapalhar o capitalismo.

A Veja acabou se transformando num depósito do pensamento ultradireitista de Olavo de Carvalho, nela representado por nomes como Reinaldo Azevedo, Rodrigo Constantino, Felipe Moura Brasil e Lobao, para citar uns poucos entre tantos.

Barbosa, pode-se imaginar, tentará reconduzir a Veja para o terreno que ela ocupou nos anos 1980, quando era considerada a melhor escola de jornalismo do Brasil. Isso significa dar a ela feiçoes liberais, pró-livre iniciativa, ao estilo americano – mas sem babar. Significa também deixar de ser panfleto para ser uma revista propriamente dita.

No mundo, há um exemplo que pode servir de modelo: a inglesa Economist. É uma revista de centro-direita que faz um jornalismo sério, de alto nível. Modelo, há. O que é difícil é recuperar a credibilidade destruída nos últimos anos por um jornalismo panfletário, manipulador e inconsequente. De toda forma, vai ser interessante observar o comportamento da revista nas próximas semanas.

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